sexta-feira, 18 de junho de 2021

Homem massa

homem massa


então quer dizer que eu me comporto em conjunto

e tenho um perfil que não é meu? 

carrego uma identidade, para além da minha? 

não acaba no facto de tomar suco natural e andar de bicicleta para a escola?

Parcela de jovens estudantes imigrantes ativos diurnos, praticantes de alimentação consciente e ecológicos. Tendência à ansiedade e probabilidade de 78% de clicar no anúncio dos braceletes feitos com plástico recolhido do oceano. 


o indivíduo se perdeu.

já não importa aquilo que carrego no peito, na mente

ou será que nunca me pertenceu? 


será que a luta para sair de uma caixa, é só mais uma caixa, dos que lutam?

a massa, dos que querem ir contra a massa. 

a porta de saída é a porta de entrada invertida. 


e se quem pensa contra mim, manipula quem pensa comigo? 


estamos distantes.


não é sobre a marquinha de bikini. é a necessidade de 10 minutos de vitamina D.

não é sobre os stories de parabéns dos amigos. é sobre a força de uma rede de apoio. 

não é sobre o corpo ideal. é sobre os benefícios da liberação de toxinas.

não é sobre a carteira recheada. é sobre generosidade.

não é sobre se destacar. é sobre evoluir em conjunto.


não é sobre a casa dos sonhos,

não é sobre a pele sem rugas,

não é sobre o resort na Tailândia


é sobre ser feliz nos instantes,

é sobre auto cuidado

é sobre se encontrar no espírito livre do outro. 


e, se isso tudo for uma caixa,


espero mergulhar

com quem nela encontrar.





Arte: Criar e apreciar. Duas realidades

A desconsideração para com a produção de arte, em comparação com o enriquecimento de quem consume e/ou negoceia arte revela, até nos dias de hoje, a condição de ser artista que apesar de tão antiga, permanece intrínseca na sociedade. A classe dos artistas, artesãos, arquitetos, entre muitos outros, não é uma classe com o prestígio que merece, já que sem estes a apreciação de arte seria impossível, principalmente devido a inexistência de arte em si. A Bauhaus (Dessau-Roßlau, Alemanha, 1919-1933, UNESCO World Heritage Inscripted) demonstrou intenções de unir a teoria com o artesanato, criando assim uma classe de pessoas que uniam as artes liberais às mecânicas. A sua existência não foi prolongada, no entanto o seu impacto é visível na contínua evolução da arte.1 Só após o movimento russo que promulgou a igualdade entre os materiais e os media, na medida em que, todos os ramos da extensa árvor da arte devem ser reconhecidos e louvados igualmente, sem distinção. Para tal a fotografia e o filme teriam que ter o mesmo agradecimento que a pintura e a escultura. Além disso, o capitalismo e a sua inescapável influência, forçam uma corrida entre todos os tipos de arte, para que nenhuma deixe de existir, no entanto sempre uma acima da outra, num infinito sistema de ‘guerra de reconhecimento’2 . A produção em série também se torna algo ingrato perante o artesanato, não só por promover a inutilidade de objetos, a partir de um pensamento materialista, mas também por permitir a produção, poluição e destruição em excesso de tudo o que rodeia qualquer manifestação de produção em série.

Acho que tenho saudades do silêncio.

Acho que tenho saudades do silêncio.

Faz muito tempo desde que me permito estar aborrecido, é assustadoramente fácil ter passado pelo dia inteiro e nunca ter parado. Se há sempre tanto para fazer, como assim todas as atividades ainda carregam um sabor tão vazio?

O quão nos imergimos numa vida barulhenta a este ponto? Eu vejo pessoas ao meu lado que fazem tanto, que se esforçam por fazer tanto, de uma maneira estranha, de uma maneira desconfortável, de uma maneira de quem, mesmo que subconscientemente, não tolera estar consigo mesmo em silêncio.

Não que seja fácil, mas talvez seja necessário. É quando não alimentamos a nós mesmos distrações que somos confrontados com quem somos, e talvez a nossa inquietude a falar connosco mesmos nos diga mais sobre nós do que pensávamos inicialmente.

É quando se mergulha no fazer nada, que se descobre que fazer nada não é nada, de todo. É tão significativo, é algo com potencial de finalmente podermos ouvir o que nós queremos dizer, numa profundidade à qual nos desacostumamos a deambular por.

O barulho e a ocupação são necessários, sem dúvida, tal como o silêncio pode parecer muito ideal e puro -eu talvez tenda demasiado para isso às vezes, mas é uma questão de equilíbrio.

Para já, o que faz sentido para mim é passar algum tempo comigo mesmo.



quinta-feira, 17 de junho de 2021

Qual é o sentido da vida?

Qual é o sentido da vida?

Existem formas diversas de responder a esta questão, que originam sentidos de vida diferentes, mas todos eles possuem um objetivo comum: A felicidade. A felicidade porque é o sentimento expresso ao sentirmo-nos bem connosco e com a nossa vida. O humano é movido de forma a conseguir ser feliz na sua vida, de um modo geral. Procura satisfazer as suas necessidades, procura fazer o que gosta de fazer, ter saúde, ter dinheiro, ter um bom ambiente social ou familiar… Todos os exemplos enumerados pertencem ao conceito de felicidade do senso comum contemporâneo. Mas, na verdade, a felicidade é algo muito íntimo, cada pessoa tem a sua forma de ser feliz, apesar de ser parcialmente moldada à moral da sociedade em que se insere. A felicidade é o objetivo supremo do sentido da vida humana, na maior parte dos casos.

Desde a antiguidade clássica que se coloca esta questão, afinal, esta é uma das maiores questões que se pode colocar à existência humana. Qual é o sentido da vida? Em outras palavras, para que é que vivemos, afinal? É com resposta na felicidade que se começam a traçar as primeiras doutrinas: Aquilo que devemos fazer para ser felizes e viver uma vida digna de se viver.

O estoicismo defendia que a virtude é o único caminho para se atingir a verdadeira felicidade. Estas virtudes do Homem são os seus conhecimentos e valores – a sua racionalidade, a característica mais importante e valorizada da nossa raça.

A felicidade era vista como uma realização por conseguir chegar o mais perto possível ao divino – Só era possível descobrir o verdadeiro sentimento de felicidade através da racionalidade incondicionada. É devotar àquilo para que nascemos. É ser feliz por ser sábio.

Para os estoicistas, o Homem deve fazer uso quase exclusivo destas virtudes, pois os sentimentos externos são vistos apenas como uma distração no percurso da sabedoria. Assim, eles valorizam a apatia/ indiferença perante os sentimentos, tomando apenas decisões lógicas. Não significa que estes não tenham sentimentos, mas sim, que os ignoram, para cada ação que executam, assumindo sempre total responsabilidade pelos seus atos.

Por outro lado, o epicurismo vai de encontro à felicidade através da simplicidade do ser e contemplação da vida. Para Epicuro, o prazer é algo fundamental para se ser feliz, mas apenas o prazer moderado, aquele que se preocupa em satisfazer as necessidades pequenas, evitando a dor, e proporcionando uma realização adequada para a vida.

O luxo sai dos limites de prazer moderado, pois não é necessário para se ser feliz, pelo contrário, o luxo habitua o corpo a grandes prazeres, que podiam facilmente proporcionar os sentimentos negativos, na falta destes, se a vida se tornasse simples. Assim, o Homem deve preocupar-se com o essencial para viver a sua vida sem grande dificuldade e contemplar as pequenas coisas da vida enquanto trilha o seu caminho.

Para o epicurista, a felicidade é aproveitar a vida de forma simples. É viver bem, em comunhão com os prazeres e sabedoria. É relacionar-se com o mundo à sua volta positivamente e aceitar a finitude natural. Não se deve temer a morte, pois após a morte não sentiremos nada, não seremos o quem somos hoje. É o hoje e a vida o foco epicurista, e é isto que devemos abraçar para ter plena felicidade.

A religião de cada um também tem um papel importante na conceção pessoal de felicidade. Os crentes seguem os dogmas impostos pela sua religião, “regras” diretas do divino para alcançar a felicidade suprema.

No cristianismo, acredita-se que existe vida após a morte e por conseguinte um paraíso e um inferno. O paraíso é uma promessa de felicidade eterna, enquanto que o inferno é o inverso. Um é a recompensa dos crentes que seguiram à risca todas as exigências impostas por Deus, já o outro é o castigo para os pecadores e infiéis. Assim, o cristão para se sentir feliz e sem o medo da morte, segue à risca todas as imposições da igreja, que podem ser interpretadas como o sentido da sua vida, pois se não o fizer, vive desesperadamente, temendo ansiosamente o fim da sua vida, pois acredita que lhe espera o eterno sofrimento.

Para os hinduístas, o caminho para a felicidade é traduzido pelos Purusharthas: Artha, a segurança de ter o conforto material necessário para viver no mundo com tranquilidade; Kama, é o prazer que traz uma sensação de deleite à vida; Dharma, a maneira correta de viver e comportamentos humanos considerados necessários para a ordem das coisas no mundo; e Moksha, quem nós somos, a autorrealização e autoconhecimento. Através de um equilíbrio entre os Purusharthas, o hindu encontra a felicidade. Este é o sentido da vida para eles.

Por fim, chegamos ao Niilismo, uma visão cética do mundo, aquela que vem “matar os deuses”. Ao contrário de todos as outras doutrinas e filosofias, o niilismo afirma que não existe um sentido para a vida, portanto não existe um caminho para a felicidade. Não há resposta ao nosso “porquê”, apenas existimos porque sim, “e porque sim não é resposta”.

A vida não tem valor porque não tem objetivo. Num universo infinito, a existência humana, junto com todas as suas ações, felicidade e sofrimento, resume-se a nada. Somos apenas um ser proveniente de reações químicas e biológicas do planeta Terra, tal como o resto dos seres vivos, e tal como estes, não temos, nem devíamos querer ter, uma razão de existir: Sobreviver, reproduzir e morrer, é apenas este o sentido da nossa existência animalesca. Mas mesmo já este ciclo não é mais necessário, pois o planeta não necessita de mais humanos, melhor seria se simplesmente não existíssemos ou que não fossemos capazes de raciocinar e nos colocássemos no mesmo patamar que os restantes seres. Pelo menos desta forma, não sofreríamos através do intelecto.

Existimos para viver, vivemos para existir e existimos por obra do acaso. Daqui não se pode espremer um significado maior para a nossa vida. Esta é a nossa única função: Existir. Por isso, quem aceita a ignorância é capaz de ser mais feliz do que aqueles que buscam por significado e resposta continuamente, podendo acabar iludidos ou então sem nunca a achar (porque é impossível achar), mergulhando num mundo cada vez mais angustiante, apenas à espera do dia em que a vida chega ao fim, sabendo que mesmo esse momento terá sido em vão e que apenas após o mesmo cessará a procura inquietante pelo seu motivo existencial.

Os niilistas partilham com os existencialistas a angústia da liberdade. Assumimos que somos responsáveis pelos nossos atos, que não temos qualquer obstrução divina, ou regra sobre nós que nos impeça de fazer algo. Por exemplo, somos o único ser capaz de nos suicidar por vontade própria, vontade que não encontraremos em nenhum outro ser vivo pois esses regem-se apenas e só pelos instintos e sentimentos. Este exemplo é o mais usado para explicar esta angústia da liberdade: Á beira de um penhasco, não temos apenas o medo instintivo de cair, também temos o medo de nos atirarmos. Coloca-se a afirmação: “Nada me impede de saltar”. E por vezes colocamo-nos mesmo a imaginar como seria se decidíssemos saltar. A nossa racionalidade atribui-nos capacidades autodestrutivas. 

Ao mesmo tempo que sentimos a responsabilidade sobre tudo o que ocorre na nossa vida e a liberdade que temos perante as nossas ações, também nos sentimos aprisionados neste “mundo sem luz”. Nós estamos condicionados pelo corpo e a realidade para nós é a forma como o corpo reage ao ambiente em volta. Mesmo a nossa racionalidade provém de um cérebro físico e está condicionada por ele, cuja capacidade não é infinita, nem tampouco perto disso. Desta forma, acredito que a realidade possa ser muito mais do que aquilo que “nós pintamos”, mas que não temos formas de sequer pensar numa realidade diferente à nossa: Seria como pensar numa nova cor, para nós, impossível. A realidade é uma ilusão criada por nós.

Assim, classifico a existência humana niilista sufocante e desesperante para quem escolhe não se iludir por outras crenças. Só sobra ao niilista viver a sua vida vazia até ao fim, ignorando, sempre que possível, esse vazio deixado pela incerteza da realidade e pela insignificância da vida, seja ela que vida for.


O niilismo aceita que a vida não tem sentido, então não vale a pena viver o absurdo. Vive quem escolhe viver. Aqui coloca-se então o problema/solução do suicídio.

Perguntei à minha mãe: “Porque é que vives e escolhes não te matar?”. Vindo de alguém que passou a maior parte da sua vida a trabalhar, com muitos desgostos e pouca sorte na vida, na saúde e no amor, que trabalha como mão de obra numa fábrica que não gosta e a receber dinheiro que mal chega para a sustentar, respondeu “Porque tenho duas filhas que gosto muito para cuidar”. Voltei a insistir na pergunta para obter umar resposta mais aprofundada: “Porque gosto de viver, ora essa!”.

Ambas as respostas partem do sentimento. A primeira revela a responsabilidade de uma mãe. Ou seja, faz parte do instinto de muitas espécies, incluindo a humana, de a mãe cuidar dos seus filhos, independentemente do que aconteça. É o instinto e sentimento praticamente inescapável, que rompem com a vontade do suicídio. Não que ela deixe de ter vontade de se suicidar, porque já muitas vezes lhe passou pela cabeça e o exprimiu em momentos de maior aflição com a vida, mas nunca o fez, pois a necessidade de proteger “as crias” é relativamente maior. As forças naturais do corpo, incluindo os sentimentos, são capazes de sobrepor-se à razão. Isso vale também para os medos e instinto de sobrevivência. São muitas vezes estes que travam o suicídio, se é que travam.

Naturalmente, não se trata apenas de instintos implícitos nesta resposta, mas também a ética e moral da sociedade em que reside que moldam a sua forma de pensar e agir. É errado, para ela, suicidar-se enquanto está a encarregue de duas filhas. No ponto de vista dela, e de muitos, o suicídio, nesta situação, seria visto como covardia. Uma fuga aos seus problemas e o abandono das duas. Ela seria “castigada” pela sociedade. A religião em nada intervinha na sua ação pois ela não é crente.

Já a sua última resposta, em que ela afirma que gosta de viver, é bastante contraditória ao estado da sua vida passada e presente, que traduzida numa palavra, é miséria. Felicidade tem mais que se lhe diga do que uma avaliação do público geral, pois como eu disse no início, é algo íntimo, parte de cada um. Apesar de ter uma vida assim, existem algumas coisas na sua vida que lhe dão motivos para querer viver e para gostar de viver. Para ela, o principal é a família. Já lhe basta ter alguns momentos em que se sente realizada por ter uma família que ama a seu lado, mesmo que tudo o resto esteja contra ela ou que haja mais discussões em casa que “boas conversas”. Mas mesmo que sejam escassos, são momentos únicos e são bons de se viver. Se estivesse morta, seria incapaz de os viver. “Quando uma canção consola alguém, valeu cantar” – Oswaldo Montenegro; Quando a vida tem momentos felizes, já valeu viver, uma frase bastante epicurista, pois é assim que defino a minha mãe.

Mas para um niilista radical, que acredita que não existe qualquer sentido, o suicídio é a solução final para o sofrimento. Para que um niilista autêntico não se suicide só podem existir dois motivos, de acordo com o meu ponto de vista: Ou ele é impedido pelos instintos e cede aos mesmos, ou seja, não tem a força mental suficiente para acabar com a própria vida, ou então prefere sofrer. Talvez porque quer ter a experiência completa de uma mísera vida humana já que é a única que vai ter, ou talvez porque prefere sofrer a não sentir nada, ou talvez porque gosta de sofrer. Se nada disto for verdade, então só mesmo o suicídio é a saída mais rápida, pelo menos mais rápida que esperar que a morte venha a seu encontro.

E aqueles que não têm a força necessária, seria preferível que se fizessem de ignorantes à própria insignificância e que tentassem viver a vida por outro sentido, que tentassem chegar o mais perto possível da felicidade, pois o niilista é o humano com menos razões para ser feliz e é ao mesmo tempo o humano que melhor aceita os factos e prefere a “realidade” à ilusão, mesmo que isso lhe custe um sentido para a felicidade.


Qual é o sentido da vida?

O sentido da vida é relativo a qualquer pessoa, e tanto pode existir como não. Para os que existe, o sentido da vida é alcançar a felicidade/ realização através das suas crenças: Racionalização, contemplação e devoção ao divino. Para outros, não existe sentido e a vida é desta forma indiferente.

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Finalmente sou maior de idade, estou livre, foi o que eu pensei. Mas com esta liberdade eu isolei-me, como costumava fazer antes, mas pouco, e graças à bênção que me deram devido à situação pandémica, fi-lo ainda com menos remorsos. Fechei-me no quarto em frente ao computador, dia após dia, o meu paraíso outrora. Foi o ano todo assim. Comecei a viver numa rotina miserável, perdida. Comia muito pouco, o suficiente para não morrer. Não tinha mais vontade de fazer o que gosto, as minhas pernas desabituaram-se a suportar o meu peso, assim como eu me desabituei à minha própria existência, focando toda a minha atenção no ecrã à minha frente, este que tanto me abstrai de tudo o resto como tira lentamente as forças para me levantar daquela cadeira e agir como uma pessoa.

Nos pequenos intervalos em que voltava a mim, perguntava o que estava eu a fazer com a minha vida, e qual era o sentido daquela vida. Entre estes pensamentos sentia que tanto ter aquela rotina quanto estar morta era o mesmo, apenas mudava o facto de que tinha razões para ser um peso na sociedade e as perguntas sem resposta não me afetariam mais. E eu não conseguia mudar, apesar de saber que dar um passeio ajuda, socializar ajuda… O meu corpo e mente recusavam-se a mexer. Sentia que estava tudo errado, mas não havia forças para fazer o certo.

Colegas, ex-namorados e família, muitos revelaram comportamentos e pensamentos suicidas. Agora eu também pensava nisso com regularidade. Foi por isso que decidi escrever sobre o sentido da vida, foi num sentido de auto-descoberta e de conhecer as razões dos outros. Acredito que o meu objetivo foi concluído: Vejo-me alguém bastante niilista. Acredito no que diz a ciência, não acredito em vida após a morte ou que exista um motivo para a nossa existência. Somos mesmo uma raça animal que dispõe da inteligência para sobreviver. Um dia tudo morre e não haverá qualquer rasto da vida. No entanto também tento me iludir com a doutrina epicurista, para evitar uma vivência mórbida, como foi a deste ano pandémico.

Sites visitados:

https://www.significados.com.br/estoicismo/

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-e-felicidade-o-que-e-ser-feliz-segundo-os-grandes-filosofos-do-passado-e-do-presente.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sentido_da_vida

https://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo

https://pt.wikipedia.org/wiki/Niilismo

https://www.ufrgs.br/psicoeduc/filosofia-suicidio-camus/

https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/suic%C3%ADdio

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Os media ópticos e o triunfo da cultura visual

Entende-se por medium, todo o suporte de difusão de informação que constitui ao mesmo tempo um meio de expressão e um intermediário na transmissão de uma mensagem.

As tecnologias da comunicação são veículos de mudança na própria organização cognitiva, fazendo assim com que a sociedade altere várias predefinições que estabeleceu no seu processo evolutivo, numa estimulação dos sentidos que confronta os cânones assimilados.

A utilização de um novo medium implica uma transformação social. A “mensagem” de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ou de ritmo ou de estrutura que introduz nos assuntos humanos, é o meio que configura e controla a escala e a forma de ação e associação humanas.

Entende-se por Cultura Visual, o campo de estudos transdisciplinares, que procura entender os aspetos visuais como fonte de transmissão cultural. Neste sentido, falar hoje de cultura visual significa falar de um campo de estudos muito alargado, onde cabem não apenas os estudos de arte influenciados pelos estudos culturais e pelo olhar antropológico, mas toda uma série de estudos sobre arquivos de imagens e o seu cruzamento com diferentes saberes. O conceito nasce do início dos anos 20 graças ao crítico e teórico Béla Balász, o artista e professor na Bauhaus Lszló Moholy-Nagy e o realizador de cinema Jean Epstein. Com a noção de “cultura visual”, estas três autores interrogaram o impacto que a fotografia e o cinema estavam a exercer na cultura contemporânea.

Consideravam eles que tais media óticos estavam a transformar completamente o campo do visível, redefinindo as relações entre palavra e imagem, leitura e olhar. A fotografia surgiu como a possibilidade de libertação das artes plásticas da escravidão do realismo, esta foi um importante medium visual que preside ao nascimento dos mass media e, depois, juntamente com o cinema, dá origem a um novo paradigma cultural- cultura visual. Concentrados essencialmente sobre os séculos XIX e XX, os objetos de estudo do campo visual são assim todas as imagens oriundas dos meios de comunicação de massa contemporâneos – os novos media, a televisão e o vídeo, o cinema e a fotografia, a publicidade e a banda desenhada -, sendo a linha teórica comum a estes trabalhos a sua insistência sobre o «visual». Apesar das diferenças que os separam, nomeadamente no que diz respeito à dimensão política das duas

noções, o pictorial turn anglo-saxónico e o iconic turn germânico correspondem a uma mesma mudança de paradigma, acentuando a importância do visual, a dimensão das narrativas visuais bem como a sua dimensão política e ideológica

Escravo do Mundo

Não é segredo nenhum que religião é uma das coisas que mais influencia a humanidade num todo, nos molda, no idealiza, nos constrói para algo. Se olharmos cinco mil anos atrás, toda a história da humanidade sempre foi marcada e influenciada pela religião. Mas eu não venho aqui falar acerca da religião num todo. Não. Eu venho falar acerca do meu caso específico, do que é viver e crescer dentro dum lar que é absolutamente controlado pelos ideais duma ceita, ou para ser mais exato, o pesadelo que foi sair da mesma. Não vou especificar qual a ideologia por detrás da ceita donde cresci, pois não quero ferir a suscetibilidade de cada um, por isso tanto podiam ser católicos como evangélicos ou testemunhas de jeová, a realidade é que, não importa a ideologia de cada grupo, porque, enquanto nós como humanidade, deixarmos que os nossos ideais e éticas sejam moldadas pelo grupo de massa que seguem cegamente uma ideologia sem qualquer fundamento para além de fé, então nunca nos iremos libertar destas correntes que nos prendem a mente.

Desde muito pequeno eu sempre pertenci a essa ceita, não é que também tivesse muita escolha, os meus pais eram, os meus irmãos eram, os meus avôs eram, toda a gente que sempre conheci, amigos e entrequeridos, todo o meu mundo sempre foi essa ceita. Nunca tive oportunidade de parar um pouco e pensar se, era realmente aquilo que acreditava, se era o que realmente queria fazer e seguir. Continuei a crescer lá dentro, a aprender os costumes e as leis e as ideias, ideias que me eram despejadas como um programa ou, um vírus, que é descarregado para dentro do nosso ser, que nos molda, que nos hipnotiza nos cega nos bloqueia, e, quando damos por nós, nós já repetimos tudo como um gravador estragado que não sai do mesmo take, lemos palavras que não foram escritas por nós e enaltecemos a nossa voz com frases que nos foram lá colocadas. Entramos num estado… dormente… quase que… morto… O que é a existência se… um simples culminar de ideias e crenças pessoais que nos moldam como pessoa? O que sou eu mesmo, como espetro neste universo se, não um simples conjunto de ideias e gostos e filosofias pessoais que moldam a minha existência? Então se… eu não tenho livre-arbítrio para tomar as minhas escolhas, nem mente critica para formular as minhas ideologias, será que eu sequer existo…? Ou torno-me apenas parte dum sistema manipulado e construído para tomar conta de nós, nos prender, formatar, agarrar e violar a nossa própria existência, sermos nada mais do que simples pedaços de carne que deambulam por esta terra a pregar palavras que não são minhas? E eu continuei, até aos meus dezassete anos, dezassete anos nesta ceita, neste grupo, nesta tão aclamada família e não me entendam errado, pessoas incríveis, simpáticas e que me amavam muito, mas que eram vítimas deste controlo mental, pessoas que nunca iriam sair da caixa que os prendia, nunca iriam tomar o passo de saírem da caverna de Platão, de enfrentarem o medo e perceberem que não se passava duma farsa, duma mentira feita pelas pessoas no poder, para nos manter controlados, eu não iria fazer parte deste meio, recusei-me, consegui quebrar as correntes que me prendiam, consegui estabelecer mente e forma de pensar própria depois de tantos anos preso a um meio que se dizia tão aberto e livre, tão enaltecido e de olhos abertos porque, “víamos a verdade com os nossos olhos”, mas não tínhamos consciência critica, éramos bloqueados e vendados e regidos por leis e normas que ninguém parava sequer para pensar no porquê delas existirem. E eu saí. Parti a parede. Abri os olhos. E o meu mundo caiu sobre mim. O pior problema das ceitas nem é lidar com as leis que te impõem durante toda a tua vida, não, é entenderes que a tua vida inteira, todo o teu mundo, as pessoas que mais amas, todas vivem neste meio, e a dor, o peso, o fardo que é saberes que, ao quebrares as correntes, ao, te libertares deste mundo que te impede de seres um individuo consciente, estás a mandar tudo o que amas, tudo o que te rodeia, embora. E tudo o que sempre amaste te manda embora, te expulsa, te corta da vida deles como um tumor que se alastra dentro do corpo, e eu torno-me esse tumor por simplesmente querer o que é certo para mim, por simplesmente tomar a decisão de ser eu a escolher o que quero para o meu futuro, em que desejo acreditar. Tudo o que sempre quis foi um “claro, nós entendemos, fico feliz que tenhas tido a força mental para pensares fora da caixa e tomares o teu próprio caminho”. Não haveriam eles de ficar contentes…? Porquê? O que estamos dispostos a sacrificar pela liberdade? Até que ponto é que a liberdade é melhor? e agora sou livre, sim livre, mas para fazer o quê? Não me entendam errado, prefiro andar sozinho no caminho certo, do que acompanhado no caminho errado, não que haja certo ou errado, mas é o caminho errado para mim, não importa quantos amigos tenhamos, família, pessoas que nos são queridas, até mesmo relações amorosas, a única certeza que temos na nossa vida, somos nós mesmos e às vezes, escolhermos o caminho certo para nós, mesmo que seja sozinho, não significa que é errado. É preciso alguém com muita força emocional para ser capaz de abdicar de tudo o que ama pelo bem daquilo que defende e acredita. Porque o que não nos mata, só nos deixa mais fortes.  

… Certo?

Ou …

O que não nos mata, só nos deixa mais quebrados …?

Queria só terminar com esta ideia, não deixem de ser vocês mesmos, não importa o preço que estejam dispostos a pagar, não sacrifiquem o vosso ser pelo bem de outros, pela companhia de outros, se tiverem de cortar cada única pessoa da vossa vida pelo bem daquilo que acreditam, façam-no, porque se essas pessoas merecessem estar na vossa vida, então elas nunca teriam de ir contra aquilo que vocês acreditam. Nunca se esqueçam, “eu preferia estar morto, do que estar em algum sítio da qual não pertenço, porque morte é melhor do que escravatura.”

Separação dos mundos

Este texto tem como objetivo discutir o conceito de separação, mais especificamente, a separação do mundo cultural e natural.

Imaginamos o seguinte, você está a caminhar pela sua quinta e repara que a sua laranjeira está a dar frutos, você apanha uma das laranjas e come. O valor atribuído à laranja pela sua ação é o seu valor de uso, no qual você tinha fome então comeu o que lhe foi disponibilizado pela natureza. A laranja nesse caso, não tem valor algum além do seu valor natural, um fruto que alimenta e que contém sementes para crescer mais frutos.

Segundo Marx, a transição entre o valor de uso e o valor de troca se dá pelo trabalho. Digamos que ao invés de vender a sua laranja, você a levasse para quinta do seu vizinho, que tem uma macieira. Vocês, para ter acesso a um fruto diferente, podiam trocar uma laranja por uma maçã.

E se, em um caso mais extremo, você levasse sua laranja para uma vila distante, que não tem laranjeiras e não consegue crescer laranjas, porém é rica em muitos outros frutos. A laranja por ser uma fruta exótica para a região rem um valor enorme, não apenas de uso, afinal, as pessoas podem de alimentar de qualquer outra fruta.

Por mais que essa vila tenha maçãs, como o seu vizinho, de repente a laranja vale muito mais do que isso, vale provavelmente mais do que uma refeição inteira em valor de troca. Nesse caso, o trabalho realizado foi o transporte da laranja até o local, e o valor atribuído ao seu valor de troca foi a força de trabalho.

O mundo em que vivemos, uma sociedade capitalista, faz com que o valor de uso e natural das coisas quase que desapareça. Uma vez que a comunidade é completamente dividida em funções e especializações de áreas de trabalho, seja ela a limpeza de espaços públicos ou seja ser o CEO de uma empresa. Os meios de produção se tornaram a base da estrutura da cultura e sociedade.

O mundo cultural existe com um conceito chamado reificação, que é o resultado de uma sociedade avançada onde a ideia se transforma em coisa, ou seja, sai do mundo das ideias e vai para o material. Nesse caso, as coisas se afastam cada vez mais do seu estado natural. E é justamente essa superestrutura criada que faz o mundo cultural.

terça-feira, 15 de junho de 2021

A perceção humana do mundo e a sua evolução

Como humanos, somos feitos de partes muito pequenas e estamos inseridos num cosmos enorme, e a questão é que não somos muito bons a entender a realidade em qualquer uma dessas escalas e isso acontece porque o nosso cérebro não evoluiu para compreender o mundo nesta escala. Em vez disso, estamos presos numa fatia muito fina de perceção e nem aí vemos a maioria do que está a acontecer.

Podemos compreender apenas um décimo trilionésimo de todas as ondas de luz. Ou seja, existem ondas de radio, micro-ondas, raios x e raios gama a passar por nós neste preciso momento e estamos completamente inconscientes disso. A nossa experiência da realidade é limitada pela nossa biologia, e isso vai contra a ideia comum de que os nossos olhos, ouvidos e ponta dos dedos captam a realidade objetiva em nosso redor.

Entender como os cinco sentidos evoluíram pode ajudar a informar como a visão, o olfato e o paladar humanos continuam a mudar com base no ambiente.

No momento, estamos a vivenciar “um estado de incompatibilidade” entre as formas como os nossos sentidos evoluíram e o nosso ambiente atual, de acordo com Kara C. Hoover, professora associada de antropologia da Universidade do Alasca, Fairbanks.

A capacidade visual dos nossos ancestrais evoluiu no exterior, no mundo natural. No entanto, os humanos agora passam uma quantidade significativa de tempo dentro de casa e isso começa a ter as suas consequências na nossa visão.

Há cada vez mais evidências de que os nossos ambientes de luz antropogénica começam a ter um custo real no nosso discernimento, com taxas de miopia a disparar nos últimos anos. Embora a miopia tenha um componente genético, as evidências sugerem que quartos escuros, iluminação artificial e “tarefas quase imediatas”, como olhar para a tela de um computador ou microscópio, também contribuem.

Muitas pesquisas foram feitas sobre o nosso olfato, particularmente sobre como o nosso ambiente continua a transformar - e perturbar – o nosso olfato. Descobriu-se que as pessoas em ambientes poluídos têm um olfato diminuído, o que só se tornará mais comum à medida que a população global continuar a se urbanizar.

Se já está provado que na realidade atual em que vivemos, em que tudo é urbanizado e automático, as nossas capacidades sensoriais estão a sofrer consequências negativas, então, há a

possibilidade dos nossos antepassados já terem experienciado o mundo de maneira totalmente diferente, e até mesmo ter desenvolvido outros tipos de sentidos.

Os ouvidos em pleno funcionamento não evoluíram até 275 milhões de anos atrás. Mas em 2015, cientistas dinamarqueses sugeriram que os peixes pulmonados podiam ter tido uma audição rudimentar.

Esses peixes foram provavelmente os primeiros vertebrados a começar a fazer incursões em terra, há cerca de 375 milhões de anos atrás, usando as suas barbatanas para "caminhar" de um lago raso para outro. O estudo sugere que eles poderiam detetar sons de baixa frequência no ar por meio de vibrações da sua cabeça, dando-lhes um precursor do que eventualmente evoluiu nos animais terrestres para se tornar o ouvido médio e o tímpano.

Quando comparamos o crânio humano com o dos nossos primos neandertais, descobrimos que o seu sistema visual foi provavelmente mais desenvolvido do que o nosso, conforme estimado a partir do volume das suas órbitas oculares e do espaço que teria sido preenchido pelo lobo occipital (essencial para o processamento visual) no seu cérebro.

O que os neandertais faziam com a sua visão que era tão diferente de nós permanece desconhecido. Ajudou-os em paisagens com pouca luz ou cobertas de neve, ou na caça?

Até agora, porém, aprendemos muito pouco sobre a evolução da visão a partir do ADN antigo; alguns genes foram identificados na sequência inicial do genoma do neandertal em 2010, mas pouco parece ter surgido desde então.

Posto isto, surge a questão: “Será que os nossos antepassados conheceram um mundo diferente daquele que nos rodeia hoje em dia?”

A cor é uma das nossas sensações mais simples ... até as águas-vivas detectam a luz e não têm cérebro. No entanto, explicar a leveza e a cor de maneira mais geral é explicar como e por que vemos o que fazemos.

A primeira coisa a lembrar é que a cor não existe de fato ... pelo menos não em qualquer sentido literal. Maçãs e carros de bombeiros não são vermelhos, o céu e o mar não são azuis e nenhuma pessoa é objetivamente "preta" ou "branca".

O que existe é luz. A luz é real. A cor não é luz. A cor é totalmente fabricada pelo seu cérebro. E se assim é, e o cérebro dos nossos antepassados era constituído de maneira diferente, então a realidade como a conhecemos era diferente.

Todos nós já sentimos

Todos nós já sentimos dor, é uma condição inevitável para um ser consciente, talvez nos sintamos satisfeitos com a vida, se é que isso é possível como irei discutir mais à frente, e com leves distrações do que nos atormenta, já tivemos momentos que poderíamos descrever como felizes. No entanto, nesses momentos provavelmente já fizemos uma reflexão sobre o que é a felicidade e por termos vontade de que esse estado se torne constante perguntamos se é possível viver nessa condição exclusivamente ou se apenas se trata de uma ilusão que juntamente com a esperança possibilitam a espera da sensação que o sentimento de felicidade pode proporcionar. Como humanos, está na nossa natureza querer que algo bom dure para sempre porque não sabemos valorizar nem viver nos momentos menos bons. A vontade é dor e também a sua causa, porque nunca haverá satisfação total do desejo.

Depois de ler a obra Notes From Underground de Fyodor Dostoyevsky e tirando algumas ideias do autor para as minhas reflexões pessoais cheguei à conclusão de que a procura ativa pela felicidade é uma ideia problemática, se aprendemos algo com a psicanálise é que os humanos são extremamente talentosos no que toca a sabotar essa procura. Felicidade é uma noção confusa, basicamente depende da incapacidade ou falta de preparação do sujeito para enfrentar plenamente as consequências dos seus desejos, diariamente fingimos desejar coisas que não desejamos verdadeiramente, apenas para que a pior coisa que possa acontecer é a realização dos nossos verdadeiros desejos. Dostoyevsky diz que o ser humano irá sempre encontrar uma forma de não ficar submerso no tédio, mesmo que isso ponha em causa a sua paz ou pelo menos o que é percebido como paz. Se fosse possível ter tudo o que desejamos na vida, iríamos então encontrar uma forma de desejar mais e transtornar a estabilidade conseguida no nosso ideal precedente, a realidade é que nunca vamos conseguir aceitar a vida apenas pelo que ela é, e vamos sempre atribuir uma noção de insuficiência ao nosso estado mais primário, ao existir.

Também podemos dizer que não somos felizes porque a posse dos nossos desejos não nos torna felizes e não sabemos lidar com esse facto voltando novamente ao sentimento de insuficiência, no entanto, mesmo sendo improvável ensinar alguém a como ser feliz, podemos aprender a valorizar momentos de felicidade, estando assim destinados a viver insatisfeitos se não lutarmos contra essa corrente, e o máximo que podemos fazer é trabalhar para conseguirmos viver “menos infelizes”.

Sendo que debatemos estas questões tendo em conta a perspetiva e vivências de um ser consciente, será que, se essa consciência desvanecesse, a procura pela felicidade seria mais fácil?

A verdade é que para a condição humana, a ausência absoluta da consciência não é uma realidade, podemos, no entanto, utilizar um exemplo um pouco mais aproximado do centro desse espectro, alguém menos consciente deveria então ser mais feliz, visto que não tem a capacidade de observar e tirar conclusões da sua realidade que o possam deixar atormentado, está completamente à deriva na sua existência e vive numa realidade criada pela reação a impulsos, é então verdade que provavelmente vive uma vida menos preocupada e mais feliz, mas para essa ser a sua realidade não pode possuir outros valores importantes como a empatia, o controle sobre os impulsos, curiosidade, entre outros, tendo assim também angústias e sofrimento como todas as outras pessoas. Podemos utilizar por exemplo a Morte, sofre-se com a morte, pois, assim como a vida, ela é uma extremidade da existência, independentemente do nosso nível de consciência. Onde quero chegar com esta reflexão geral é que não é possível viver isento de sofrimento, de dor, de angústias, mas é necessário perceber que estes momentos são os que fazem com que os momentos felizes sejam, de facto, prazerosos, se a nossa ideia de uma vida perfeita fosse exclusivamente felicidade e estados de espírito dessa natureza, nunca iríamos estar verdadeiramente felizes, somos demasiado ingratos para aceitar que essa seria uma condição perfeita depois de vivermos nela durante algum tempo. Temos de encontrar um equilíbrio e aceitar o momento como ele é, aceitar que quer seja bom ou mau é necessário e traz perspetiva ao nosso dia-a-dia.

Dragões, feiticeiros e... dados

 “Vocês caminham por estes túneis húmidos e frios durante algumas horas, até que chegam a uma parte do vosso percurso em que conseguem observar uma luz dourada mais à frente.” – diz uma figura que observa outros quatro indivíduos numa mesa atrás de uma barreira de cartão decorado com gravuras de temas de fantasia.

“Nós seguimos em frente, se há luz pode ser que haja uma saída.” – respondeu uma das pessoas em torno da mesa.

Por trás da barreira, esta pessoa acena afirmativamente com a cabeça – “Vocês seguem caminho, e ao dobrar uma esquina, vêm uma sala imensa esculpida na rocha desta caverna, com pilares que a sustentam em toda a volta. No entanto, o mais impressionante que observam nesta área... é a imensa pilha de tesouro que se encontra no centro. Moedas de ouro e prata, jóias e pedras preciosas, armas e armaduras magníficas criadas por mestres... é um tesouro imenso que é suficiente para vos reformar prematuramente da vossa vida de aventureiros.”

“Eu começo a pilhar o tesouro!” – diz uma outra pessoa com uma voz empolgada.

Um sorriso esboça-se nos lábios deste narrador – “Enquanto começas a encher a tua mochila com moedas e jóias, reparas em algo a mover-se nos recantos mais escuros desta caverna... e no meio da escuridão um olho, maior do que a tua cabeça, de um laranja incandescente observa-te. Este olho eleva-se alto, e aproximando-se da luz reparas numa cabeça reptiliana monstruosa, com dentes afiados como facas e escamas vermelhas como rubis... “Quem ousa perturbar o meu domínio?!” – ecoa uma voz que voz invadiu o silêncio desta área, ecoando como um trovão nas paredes de pedra... encontram-se agora na presença de um dragão vermelho, e ele não está nada feliz por perturbarem o seu descanso... rolem para iniciativa!”

 

Este pequeno texto é um bom exemplo do que eu vou falar, algo que começou há muitos anos atrás, em 1972, após o encontro entre dois indivíduos chamados Gary Gygax e Dave Arneson, numa cave em Lake Geneva, em Minneapolis nos Estados Unidos., para o que seria “apenas” uma sessão de jogos de tabuleiro... e se viria a tornar em algo muito maior daquilo que estavam à espera... Dungeons & Dragons.

Dungeons & Dragons é um Tabletop Roleplaying Game, onde temos os jogadores que criam personagens e jogam o jogo encarnando a sua personagem (daí o roleplay), completando missões, subindo de nível e ficando mais fortes, e o Dungeon Master, cujo a função é fornecer a narrativa da história do jogo, interpretando as diversas personagens que fazem parte do mundo, lutando contra os jogadores com os vários monstros que existem, desde gigantes, quimeras e dragões, e talhando o rumo do jogo conforme as acções dos jogadores.

Apesar de parecerem duas equipas opostas, é costume um Dungeon Master e os seus jogadores trabalharem em conjunto, de forma a poderem dar à história um rumo que agrade a todo o grupo, se um jogador achar que a sua personagem precisa que tratar de algum assunto da sua história em missões futuras, cabe ao Dungeon Master dar essa oportunidade de explorar o passado desta personagem e atar pontas soltas na história dela, dando uma conclusão a uma demanda que ela tenha há anos por exemplo.

Mas este jogo é tão mais que simplesmente rolar dados e passar de nível, posso realmente dizer que este jogo despertou de novo em mim aquela faísca de maravilha que possuía quando era criança e lia o Senhor dos Anéis, fez-me dar valor ao gosto que sempre tive por escrever e criar histórias, personagens e mundos, Dungeons & Dragons tem imensa capacidade para despertar a criatividade seja em quem for! Eu vi pessoas formadas em diversas áreas que nada têm a ver com arte a ganharem gosto por voice acting, actuação, escrita criativa e desenho por exemplo! E não só na vertente criativa, mas também a nível social e pessoal, tantas pessoas que eram anti-sociais ou introvertidos e encontraram neste jogo uma maneira de poderem socializar com outras pessoas, as quais se não fosse por este jogo elas seriam demasiado diferentes para se conhecerem de outra maneira. Ou até mesmo em pacientes com depressão, que encontraram neste jogo uma maneira de lidarem com os seus demónios ao poderem refugiar-se por detrás desta armadura que é a sua personagem, o seu “eu” ideal, e que muitas vezes aprenderam imenso com isso e acabaram por conseguir lidar melhor com as suas dúvidas e medos.

Felizmente o estigma de que Tabletop Roleplaying games são o epitomo da cultura nerd, e que só apenas pessoas que vivem nas caves das mães sem saírem à rua é que os jogam tem vindo a diluir, talvez muito com a ajuda de celebridades, como Vin Diesel, Joe Manganiello, Stephen Colbert e Jon Favreau são apenas uma fracção deste grupo imenso de pessoas conhecidas mundialmente que jogam Dungeons & Dragons, e que muitas vezes admitem que as suas carreiras se tornaram mais produtivas devido a este jogo.

Recentemente, D&D tem tido um crescimento grande, muito devido às livestreams na plataforma Twitch do grupo Critical Role, um grupo de voice actors americanos, vozes de muitas das personagens que vemos em séries de animação, filmes e jogos, que começaram a partilhar as suas sessões na casa do seu Dungeon Master, Matthew Mercer, com o mundo sem saber no que iria dar... e recentemente quebraram o recorde no Kickstarter para a realização daquilo que seriam apenas 3 episódios animados sobre a sua campanha de D&D, para a qual o objectivo era chegarem a 750 mil dólares num prazo de 45 dias... e os seus fãs decidiram quebrar as expectativas e quase bater os 12 MILHÕES de dólares, tornando este sonho partilhado entre este fantástico grupo de pessoas e os seus fãs, de ver as personagens que adoram numa série animada completa, com as vozes dos seus jogadores. E quem diz Critical Role diz imensos outros grupos que decidiram fazer o mesmo e estão a ter imenso sucesso.

Dungeons & Dragons permite-nos brilhar e poder ser quem somos na realidade, sem máscaras, permite-nos entrar em contacto com o nosso lado artístico e criativo, permite-nos rir com as peripécias das nossas personagens ou dos membros do nosso grupo, e chorar quando perdemos alguma personagem que o Dungeon Master usou para interagir connosco e a quem nos afeiçoámos, ou até mesmo quando a nossa própria personagem perde a vida de uma maneira heróica a salvar um companheiro, Dungeons & Dragons é isto e muito, muito mais.

Espero que este texto tenha sido elucidativo e vos tenha despertado o interesse... e quem sabe se futuramente não nos veremos na mesma mesa do mesmo lado ou em lados opostos do Dungeon Master’s Screen... podem encontrar-me a mim e a muitos dos nossos colegas no Núcleo de DUngeons & Dragons da FBAUL... e até lá, que os dados estejam sempre a vosso favor.

Chaos

    “Don’t be afraid,” they say. It’s easier said than done. How could I not be afraid? It has been said that something as small as the flutter of a butterfly’s wing can cause typhoon halfway around the world. Everything affects everything. I cannot control it. This is chaos theory. I’m just a small being with a big impact in the world. That’s scary. How do I move forward? I can’t. Everything affects everything, remember? I have to stay still. Only God knows what would happen. So I stay still. Time passes me by. I slowly start to lose contact with friends and family. Why is this so painful? I wish I could go out. Every day is the same. Will I ever be happy again? I’m ashamed. I want to go back. No! I can’t. I have to stay still. I want to meet people. No! It won’t work anyway. I’m tired. I want to sleep. I’m going to sleep. I can’t sleep. Jesus Christ! No! Damn butterflies! You know what? I go out with my friends and family. I meet loads of new people. I feel happy. I drink a bit too much and make stupid mistakes. I’m not ashamed. I don’t want to go back. Yes! I can do this. I don’t have to stay still. I take a deep breath. I smile. Even the damn butterflies do. “Don’t be afraid,” they say. “Create chaos.”


O valor emocional da arte

 Lembrei me deste tópico após ter visto um documentário sobre uma das maiores fraudes de pinturas falsas que diziam ser de artistas como Pollock, Motherwell, Newman, Rothko, que eram apresentadas como novas telas descobertas dos artistas e vendidas como se fossem verdadeiras. Para a minha reflecção vou-me focar me mais numa obra que se dizia que era de Rothko, pois o documentário fala com o casal que comprou a obra falsificada. A senhora diz nos que ao ver a obra pela primeira vez no escritório da curadora do museu, que se emocionou com a beleza das cores gostando tanto da obra que a quis obter imediatamente, o que acabou por acontecer. Mas após saber que esta era falsa a mesma parece que ficou a gostar menos da obra já não lhe tinha tanto valor emocional como quando pensava que era verdadeira, mas porquê? A obra continua a ser a mesma só o seu valor monetário é que mudou, consigo perceber que o casal se sinta enganado e que aquela curadora tenha traído a sua confiança, contudo a obra manteve-se na mesma tem as mesmas cores as mesmas formas porquê que a senhora já não sente a emoção que sentia a olhar para ela?

   As afirmações do casal fizeram-me pensar que é claro que eles só querem saber de arte quando esta lhes beneficia monetariamente, seja como investimento ou como símbolo de um estatuto social e sabendo agora que a pintura que têm na sala vale zero, a obra deixa de ser uma obra de arte a seus olhos e deixa de ser especial e manter o mesmo significado que tinha para o casal. Porem depois de algum tempo a pensar no assunto cheguei à conclusão que se calhar o desinteresse e desgosto pela pintura não seja só pela perda monetária que sofreram, mas talvez pelo que esta representa para o casal agora, porque cada vez que olham para a pintura estão a olhar para um objeto que os traiu e os deixou vulneráveis, por isso é claro que as emoções que aquela obra lhes trazia mudaram agora que esta está associada a um momento negativo na vida destas pessoas.

   O caso deste casal mostra como o significado que dávamos a uma obra de arte pode mudar ao longo da nossa vida depois de aprendermos nova informação sobre ela e o artista que a realizou, ou depois de a associarmos a momentos da nossa vida fazendo com que a arte seja subjetiva e provoque emoções diferentes no mesmo indivíduo durante a sua vida.

    Para além deste tema o documentário fez-me pensar se aqueles quadros podiam ser considerados arte ou não, já que quando se achavam que eram verdadeiros eram considerados obras de arte mas depois de ser descoberto que eram pintadas por um senhor chinês será que deixaram de o ser? Pois uma obra de arte é só considerada obra de arte quando críticos e o público em geral a considera como tal, se era considerada obra de arte antes de se descobrir que eram falsas, será que agora também se pode considerar que são arte?

Blockbusters e Streaming: o nome mantém-se?

De acordo com a web magazine TIME, a não confundir com Times, a palavra “blockbuster” tem origens em tempos de guerra - não da Primeira Guerra Mundial, mas da Segunda. A palavra apareceu pela primeira vez nas páginas da TIME em um artigo de 29 de novembro de 1942 sobre o bombardeamento aliado de alvos industriais importantes na Itália fascista; as bombas usadas para essas missões foram denominadas blockbusters por causa da capacidade de destruir um quarteirão inteiro da cidade.


Como o termo continuou a aparecer no contexto de reportagens dos media sobre os bombardeios aéreos dos Aliados, rapidamente entrou no léxico americano como uma metáfora para algo chocante. Essa transição também pode ser vista nas páginas da TIME. A revista começou a usar blockbuster para descrever notícias surpreendentes, de decisões do Supremo Tribunal Federa Americano a jogos de futebol notáveis.


Na edição de 9 de maio de 1943, a TIME usou a palavra para descrever um filme, não pela sua receita de bilheteria, mas pelo conteúdo: a adaptação para o cinema do ex-embaixador Joseph E. Davies, o best-seller Mission to Moscow foi “audaciosa ao extremo ”, de tal forma que os críticos o chamaram de“ tão explosivo como um blockbuster ”.


Mas não demorou muito até a palavra se começasse a referir especificamente a filmes que eram bem-sucedidos a nível comercial. Eventualmente, a ideia de um filme de grande sucesso tornou-se associada a filmes de ação de verão, especialmente depois do thriller de ataque de tubarão de Steven Spielberg, JAWS, lançado a 20 de junho de 1975, feito especialmente para assustar os que iam à praia no verão para dentro das salas de cinema. Quando Star Wars foi lançado, dois anos depois, cimentou o género de sucesso de verão. Hoje, Guerra das Estrelas de 2015: Episódio VII - O Despertar da Força continua a ser o filme de maior ganho pelas bilheteiras na América do Norte de todos os tempos.


Os sucessos de bilheteria logo se tornaram conhecidos por fazerem linhas em redor dos quarteirões. O crescimento da rede de lojas de video-renting “Blockbuster Video” em meados da década de 1980 é a prova do uso popular do termo na indústria cinematográfica.


Mas com os tempos mudam-se as vontades, e com a pandemia eu comecei a pensar neste assunto após o mencionarem na aula: “O blockbuster ainda é usado? Vale a pena?”


Estes números são da grande e capitalista América. Contrastando com o nosso muito mais pequeno país, eu nunca sequer soube da existência de salas de cinema suficientes para recriar um “Blockbuster”, ou seja, uma cidade não teria mais do que 1 sala de cinema por 3-5 blocos de residentes e lojas. Caldas da Rainha, como exemplo pessoal, não é uma cidade muito extensa e só teve ao mesmo tempo 3 salas de cinema. Neste momento tem duas: No Centro Cultural (sala de cinema e palco), e no Centro Comercial. Para além do mais a pandemia de Covid-19 mandou fechar as salas de cinema, e assim as pessoas viraram-se para os sites de streaming, como a Netflix e Amazon Prime Video. Eu incluida.


Com a vida de tal modo virtual, já não há “blocks to bust” (quateirões a rebentar), e a rede de lojas Blockbuster desapareceu, ficando apenas uma única loja em Oregon, que mesmo com a pandemia se mantém. Pelos vistos agora também arrendam videojogos e têm um serviço online de entregas, o que é uma excelente escolha, na minha opinião. Eu tenho CDs de jogos cuja história acabei e provavelmente nunca mais jogarei.


Com arrendamento, streaming, e poucas salas de cinema, pergunto de novo: “O blockbuster ainda é usado?” A resposta é sim, e nem sei se vale a pena mudar o termo.


Anita Elberse, Professora de Administração de Empresas em “Harvard Business School”, especializada em entertenimento, media e desporto, define blockbuster como uma estratégia de sucesso, com que um produtor faz grandes investimentos para adquirir, desenvolver e comercializar conceitos com forte potencial de sucesso e, de seguida, aposta nas vendas desses títulos para compensar o desempenho mediano do seu outro conteúdo. Os filmes blockbuster tendem a incluir efeitos especiais emocionantes, como exibições pirotécnicas e imagens geradas por computador. Parecem caros e não são experimentais ou inesperados. Os sucessos de bilheteria são espetaculares. É suposto entusiasmarem o público por meio de exibição visual e não dependem do diálogo para envolver o espectador.


O blockbuster continua a vender do mesmo modo que dantes, por palavra do público. E não é segredo: filmes blockbuster vendem muito bem. Planeta dos Macacos, Mad Max, os universos cinemáticos de DC e Marvel quase na sua totalidade, Fast and Furious, entre outros que não têm seguimento. Estes filmes contrastam com filmes de autor que podem não ser tão conhecidos, como a obra prima que recomendo a todos, Forma da Água, de Guillermo del Toro.


Estou a lembrar-me do filme Guardiões da Galáxia, dentro do universo cinemático da Marvel. Acho ser um ótimo exemplo de blockbuster moderno. Tem armas de fogo, naves espaciais, cenas de ação, explosões, apelo sexual dentro da faixa etária dos 15 anos, comédia, romance e emoção. O segundo filme tem o que já é mais inesperado, com uma grande revelação e visuais belíssimos, mas com as mesmas personagens principais e os mesmos temas. Adicionalmente a história das personagens vai continuar por mais filmes, funcionando assim como um gancho que mantém o espectador na expetectativa de ver mais destes filmes, gastando mais dinheiro.

Não sei se é arte

Cada vez mais na minha vida me questiono sobre o que efetivamente se pode considerar arte e se, o que eu faço pode ser designado de arte.

Vivo num tempo em que na escola se fala tanto sobre as grandes obras clássicas greco-romanas, renascentistas e barrocas, eram grandes os exemplos de pinturas e esculturas que nos acompanham até aos dias de hoje, eram grandes imagens que nos davam a ver e a admirar, a realidade tal com ela é. Nessas alturas, o meu eu criança interrogava-se sobre o meu talento e ambição pelo desenho, e se alguma vez se poderiam comparar com esses, grandes, de novo, exemplos da antiguidade.

“Como se poderá avaliar o grau de fidelidade que uma obra representa a realidade, se não a podemos aceder?”

E com todas estas questões, ia-me esquecendo que o mundo já nem era assim. A obra de arte já não era como era e eu ainda não entendia como o era. Agora que a entendo um pouco melhor, continuo sem saber o que é arte, o que é suficiente para que uma peça seja considerada arte nos dias de hoje. Continuo sem saber se, o que eu faço pode ser considerado arte ou se é simplesmente um gosto, um passatempo.

Não costumo pensar num porquês de fazer um desenho, um projeto, ou outro trabalho. Também não costumo exprimir sentimentos porque quase não sinto nada, ou então só me sinto bem, porque o meu bem é o normal. Nem penso expressar problemas sociais, nem políticos, nem ambientais, penso muito neles, mas não os demonstro no que eu faço. Desenho porque quero, porque gosto, porque me apetece, e se por acaso desenhei alguma coisa relacionado com tudo aquilo, foi apenas por mero acaso.

“Nem toda a arte se caracteriza por exprimir sentimentos e por comunicá-los de forma evidente como a arquitetura.”

Ainda bem. Só penso no ‘porquê’ nestes projetos de faculdade, porque sou forçada a pensar em algo, porque não tenho tempo de ir lá para fora e ser surpreendentemente inspirada por algo que me suscite imediatamente para um projeto que possa vir a realizar. Então, se desenhar sem nenhuma razão não é arte, esta forma será? Uma forma em que fui impingida a arranjar uma razão para o que iria fazer? Ou não é preciso razão nenhuma?

“A combinação das qualidades formais da obra de arte pode provocar diferentes emoções estéticas e ganhar significados diferentes em públicos distintos”

Então, se uma obra de arte é só isso, só se torna isso, quando desenvolve uma relação com o público. Quando sendo significante, atinge um significado por parte deles e, de acordo com esse significado se pode definir se é ou não é arte, se só eles a podem classificar, então o meu trabalho não o é. Não é porque eles ainda não o viram.

Se o meu trabalho ainda não foi partilhado com o mundo, nem com centenas de pessoas, nem com dezenas, só em casa, como é que posso assegurar a publicação de um trabalho como obra de arte se ele, sendo que ainda não foi visto, não é obra de arte por ainda não ter sido visto?

Se quero que seja visto, teria de optar pelo caminho das redes sociais. Mas assim teria de me render ao consumismo de imagens, onde todos têm o mesmo patamar, incluindo eu, e numa fração de segundos veem o teu trabalho com uma experiência sensorial e cognitiva nada semelhante a algo que é apresentado fora dos ecrãs minúsculos do telemóvel ou computador.

Não sei ser contemporânea. Sei que o meu desenho abrange diversos estilos, mas não sei se é bom porque experimento muitos deles, ou se é mau porque ainda não tenho o meu estilo. Se já o tenho, então ainda não sei qual é. Só sei o que gosto de fazer e que vou continuar a fazê-lo e se é arte ou não, não sei. Porque percebi que arte é tudo e nada daquilo que eu referi. É imitação, é expressão, é estética, é provocação, é reflexão, mas não é, não, se eles não existirem.

Dependência

A aula desta disciplina que mais permaneceu na minha cabeça, ao longo deste semestre, foi uma das primeiras e o assunto prendeu-se com a cultura e a eventualidade da mesma, a arbitrariedade da mesma, a necessidade que esta satisfaz.

Muitas vezes me questiono sobre isso. O que é uma vida sem cultura, por oposição a uma vida com cultura. Temo que muitas vezes nos estejamos a desligar do mundo, decifrando a nossa vida só através dos símbolos culturais.

É uma questão ingrata para mim, porque trabalho com cultura. Sou sortudo. O meu trabalho é entreter, ganhar dinheiro sendo criativo. O que quer que ofereça ao mundo, nesse contexto, visa a trazer ponderações, ideias, sensações e o que obtenho em troca, é retorno financeiro e uma sensação de completude.

Apesar disso, há uma sensação permanente que eu, e todo o mundo que vive e respira a cultura, os símbolos e elementos manifestados nas múltiplas artes como expressão de ideias, estamos a viver numa dimensão gasosa, sem contato com o real.

Mesmo retrocedendo milhares de anos na nossa história, até as primeiras pinturas rupestres, a existência destas não implica algum sedentarismo? Algum conforto com tempo disponível para reunir ossos, carvão, argila, pulverizá-los, misturar com sangue, excrementos de morcego, ovos ou outros aglutinantes… tudo isto não implica conforto?

Tenho medo que nos dias de hoje, se vivam vidas dependentes de uma satisfação cultural.

As experiências de vida, estas passam a ser cada vez mais de observação e não de experimentação. Não vejo crianças a brincar nas ruas. As pessoas relegam os cães à posição dos filhos. O conforto do streaming garante que não precisamos de nos deslocar a algum lugar para ver uma história ser contada. Escrevemos sobre a ânsia de vida de um pedreiro, informando-nos sobre o seu trabalho através de uma página da wikipedia sobre o processo de picar paredes.

E aqui estou eu, a escrever um objeto cultural sobre como a cultura é um vício perigoso de alimentar. Há distrações piores da falta de significado da vida. Ou então a cultura existe para procurar um significado.

O que eu gostaria de saber, é se somos criaturas de padrões e informação e temos a obrigação natural de aprender com esses padrões e registá-los para o futuro, não teremos também a obrigação de de vez em quando parar e tomar consciência de que se calhar, não há significado algum a decifrar?

Então o que restará nesse momento? Talvez o simples prazer de apreciar algo. Como um cão, a correr atrás de uma bola. Ele nunca questiona de onde ela é lançada. Só sabe que tem que correr atrás.

Estou de passagem

Hoje levantei-me às 9:37. Sonhei com prazos de entrega e automações. Não dormia há 43 horas. 

Os dias passam depressa e tão devagar ao mesmo tempo que me ausento da minha própria noção de tempo. Enquanto tento processar tudo o que está a acontecer dou voltas à mesa da cozinha até alguma espécie de inspiração ou intenção me assoberbar e ligar de novo o modo automático. A expressão “ter os pés assentes na terra” nunca fez menos sentido. Parece que quanto mais me distancio das coisas efervescentes do mundo contemporâneo, mais vou ao encontro da minha sobriedade.

Sinto-me ausente. Não sei onde fui nos últimos tempos mas espero que esse lugar onde me encontro seja melhor do que aquele que o meu corpo pisa todos os dias. Corpo esse tão vazio, tão físico, dono das ações e do mérito por elas. Que fala, que escreve, que se vê no espelho, dissociado de si. “Quem és tu”

Existe um turbilhão de pensamentos que me envolvem, um universo de inovações e revoluções a acontecer lá fora, mas do outro lado da minha janela só vejo a vizinha a passear o cão de vez em quando. Deste lado, faço mil e uma coisas ao mesmo tempo, mas é como se não estivesse a fazer nada. O propósito existe mas não tem propósito nenhum. Às vezes dou por mim a pensar qual é o objetivo de tudo isto, da minha existência ou o que quer que isso seja. Não sei. Mas gosto de acreditar que é sentir. Sentir o sol na pele quando nasce na madrugada, sentir o cheiro nostálgico do início de verão, sentir a brisa fresca e a adrenalina do movimento. Olhar. A forma como a luz molda cada objeto, cada paisagem, cada ser. A forma como pinta com todas as cores do arco-íris. A forma como estas nos provocam sensações, despertam emoções, criam cenários, trazem lembranças. E nos deixam sonhar. 

Ouvir. O som das ondas do mar ou jazz ao fim da tarde. 

Deixar-me levar pela natureza das coisas. Permitir que me toque e me inspire e me deixe levar o meu tempo. Tentar sentir as minhas vibrações e as dos outros e do que está à nossa volta.

Hoje o mundo exige demasiado de mim, arranca-me da minha forma, faz-me tantas perguntas às quais não tenho resposta. A claustrofobia de ter de estar a par de tudo, de fazer em função de, de criar por imperativo de outrem, é só um impedimento à minha expansão. 

De que me serve exceder os meus próprios limites, gastar a minha energia em algo que não cativa a minha presença.

Quero experienciar a Terra.

Afinal, estou só de passagem. 

A performance nas décadas de 1960 e 1970 e a partir da década de 1990

Apesar da performance só ter sido aceite como expressão artística na década de 70, começou a ganhar forma nos primórdios dos anos 60. A mesma vem corromper toda a história da arte que se antecede, principalmente pelo contexto histórico, político e social onde se insere. A invenção da máquina fotográfica vem dar autonomia ao artista para experimentar e expor os seus ideais artísticos numa plataforma videográfica onde os limites não existem. Ao contrário da plataforma clássica, os museus, onde eram apenas aceitos certos tipos de projectos artísticos, os mais conceituados pela sociedade.

Nas décadas de 60 e 70, vários homens decidiram seguir o caminho mais experimental, que a câmera disponha. No entanto, este veio ser como uma “catapulta” para as mulheres no meio artístico, sendo que este universo centrado apenas nas capacidades dos homens, desvaloriza as mulheres, especialmente no âmbito do trabalho.

Com isto, as performances destas décadas contêm um carácter de maior libertação, expulsam todas as tradições que se empregavam no Status quo, são serenamente frustrantes. Na performance Cut Piece, 1965 de Yoko Ono, a artista entrega o seu corpo ao público, deixando-os cortarem-lhe a roupa, quebrando, assim, com o conceito de corpo reservado e intocável da mulher. Com isto, em Semiotics of the Kitchen, 1975, Martha Rosler assume o papel de dona de casa vestida de avental e ironiza as demonstrações de culinária na televisão popularizadas por Julia Child na década de 1960. Move-se pelo alfabeto de A a Z, atribuindo uma letra às várias ferramentas encontradas neste espaço doméstico. Empunhando facas, quebra-nozes e um rolo, demonstra a raiva e frustração da mulher. Esta arte, nos seus primórdios, abraça o pouco rigor videográfico, centrando-se mais no campo experimental. No entanto, é movida essencialmente pela crítica e pelos sentimentos de prisão vividos por mulheres, nas décadas de 60 e 70.

Este movimento é marcado pelo clima provocativo. A arte liberta a mulher, dando-lhe espaço para exprimir certas injustiças sociais entre o sexo feminino e masculino. Por fim, na década de 90, vive-se um clima de prosperidade sem conflito, devido ao fim da guerra fria e à popularização do computador pessoal e consequentemente da internet.

Muitos artistas saíram da solidão para equipas videográficas como é notório na expressão de Zhang Huan “... Afterward, I signed contracts with photographers and videographers for every performance piece...”. Com isto, foi possível a conceder melhor qualidade de vídeo aos artistas, de modo a que os espectadores das suas vídeo performances tivessem uma percepção semelhante à de quem assistia ao vivo.

Consequentemente, a popularização da internet e computador pessoal, foram claramente as principais fontes da globalização, sendo capazes de chamar inúmeros artistas performers à fama, tal como uma melhor aceitação do estilo artístico da performance.

I, Eu, Yo, Je, Εγώ, я, 我

Dos gregos veio o mito de Narciso, jovem incapaz de amar outras pessoas e que morreu pelo seu reflexo em águas paradas. História clara, mas com muito mais recheio metafórico do que aparenta. Inspirou para o termo narcisista já considerado anomalia e até doença, doença essa que nos dias que correm nos afeta a todos. Entre 1910 e 1914, Freud introduz o conceito psicanalítico de narcisismo (o amor excessivo de um indivíduo por si próprio) na base do desenvolvimento infantil e na procura pelo desejo libidinal. Conceito interessante esse que, me acompanhou e a muitos outros, enquanto criança, fazendo-me pensar que a minha pessoa seria literalmente, o centro do sistema solar, como se Copérnico no século XVI se tivesse enganado, como se eu fosse o camisola amarela desta “volta à vida” ou como se fosse a personagem principal deste filme ainda por acabar. Freud e posteriormente Lacan, destacam esta fase do narcisismo como primária, como uma fase natural de intuito constitucional e não criticável. Esta deriva antes da formação do ego e tem como base a ausência de relações objetais. Todo o investimento do bebé/ criança é apenas em si, ao mesmo tempo em que pensa que todas as outras crias conspiram e vivem para o seu bem-estar e elevação. Esse estado paradisíaco de perfeição é corrompido mais tarde quando descobre que, como seus pais e as pessoas à sua volta, está exposto a exigências e problemas. À medida que o tempo passa, a criança perceberá que não é tudo para os seus pais, de que estes também têm outros interesses. Essa perspetiva da criança é, nas palavras de Poulichet (1989): “[…] a ferida infligida ao narcisismo primário da criança. A partir daí, o seu objetivo consistirá em fazer-se amar pelo outro, em agradá-lo para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através de certas exigências do ideal do eu". É dessa forma que a criança entra no segundo estágio de narcisismo, ao qual Freud denominou de narcisismo do ego, porque é retirado dos objetos a partir dos processos de identificação com as figuras parentais ou seus representantes. De modo geral, tanto a primeira como a segunda fase narcisista irá desenvolver a personalidade e acompanhar o indivíduo durante toda a sua existência. Foi a partir do olhar apaixonado e desejoso da mãe, que a criança se reconheceu e se sentiu amada. Daí para a frente, todas as suas escolhas e realizações terão por base esse período em que foi possível o desenvolvimento do amor por si mesma. É esta a fase que Lacan se acaba por debruçar mais afincadamente, a exploração da “mirror stage”, aquando a criança se apercebe, ou começa a aperceber, que não é de todo o centro do universo, ou que, pior ainda, não é tudo para os seus representantes parentais. A partir desta fase, a maior preocupação do sujeito em desenvolvimento é ser amado como já havia sido anteriormente.

Daí surgem os narcisistas em questão neste pequeno texto. Seres apaixonados pela sua própria imagem e que, ao longo da sua vida, tentam reconquistar o afeto dado pelos seus pais noutras ou em todas as pessoas que conhecem. Jean-Jacques Rosseau diz que na mitologia grega Narciso não se apaixonou por si mesmo, mas sim pelo seu reflexo. Acontece que essa imagem jamais poderia constituir um reflexo fiel: ela informa um elemento subjetivamente inexistente. Já aparece distorcida, no mínimo devido à inversão do campo visual a partir da qual o que era direita torna-se esquerda e vice-versa. E que, portanto, ocupa o lugar simetricamente oposto àquilo que é chamado de verdade do sujeito, uma visão irrealista de si mesmo. Podemos também transpor este raciocínio de inversão visual para os dias de hoje, sendo a distorção de realidade as redes sociais que diariamente utilizamos. Vivemos numa pandemia narcísica onde plataformas online são o melhor palco para se autopromover, auto-prosperar e procurar validação para o seu “eu” todo poderoso. “O narcisista depende dos outros para validar a sua autoestima. Ele não pode viver sem um publico admirativo. A sua aparente liberdade de laços familiares e de pressões institucionais não o liberta para ficar sozinho ou glorificar-se de sua individualidade. Ao contrário, contribui para a sua insegurança, que ele só poderá superar vendo o seu ego grandioso refletido nas atenções dos outros ou ligando-se àqueles que irradiam celebridade, poder e carisma.” – Lasch, The Culture of Narcissism. As redes sociais são a ascensão do alter ego, uma realidade construída e idealizada do que pensamos ser, um espelho que nos inverte o sentido da imagem. Este comportamento parece expandir-se como uma praga na sociedade contemporânea não só entre os adolescentes e jovens que inundam as redes sociais. “A desordem narcisista da personalidade – um padrão geral de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia– continua a ser um diagnóstico bastante raro, mas as tendências narcisistas estão certamente em alta”, explica a psicóloga Pat MacDonald, autora do trabalho Narcissism in the Modern World. Nos dias de hoje, Narciso não se viria a apaixonar por si mesmo, mas sim pelo seu feed de Instagram religiosamente organizado e colorido, e morreria de desgosto devido à contagem da sua última publicação ter sido inferior à expetativa, afogado em águas de si mesmo. Todos os dias são colocadas 80 milhões de fotografias no Instagram e dão-se cerca de 3,5 bilhões de likes. “Eu a comer”, “Eu na piscina “Eu no bar” - Eu, Eu, Eu. No Facebook milhões de pessoas dão detalhes das suas vidas pessoais ao mundo. A internet (redes sociais) está-nos a tornar não só espetadores passivos, mas também narcisos ansiosos por atenção, obcecados por conseguir seguidores e likes de relevância zero que nos elevem o Egó (grego) traduzido para “eu”. Devemo-nos preocupar com esta realidade banal que assoberba a sociedade dos dias que correm, ou estaremos apenas a enfrentar outro " novo normal" baseado numa plataforma e na crença de que tudo o que fazemos é merecedor de atenção?

Os narcisistas utilizam as redes sociais por estarem convictos de que os outros realmente se interessam pelas suas vidas e é, coincidentemente, seu desejo inato quererem que os outros saibam tudo sobre o seu dia-a-dia, acreditando verdadeiramente que todos os seus momentos publicados são dignos de orgulho e merecedores de pelo menos um post. “O humano é uma criatura narcisista desde que o mundo é mundo” – Sartre Nisto poderíamos culpar a educação, “a cultura americana" (atualmente adotada por quase todos os cantos do mundo) que envolve o conceito de" autoestima exacerbada”, no qual todos os pais se esforçam por assegurar que as suas crias são “especiais”. A “superproteção” que se tem vindo a alastrar por várias casas é então como um vírus, um comportamento tóxico que consome os pais e que faz com que a criança se considere superior aos demais. Na maioria das vezes, as figuras parentais pensam estar a contribuir para um desenvolvimento e construção estáveis da sua autoestima quando, na verdade, estão somente a alimentar o ego de mais uma mentalidade narcísica, de uma criança que passará a maior parte da sua vida à procura de algo ou de alguém que confirme o seu mundo ilusório garantido e prometido pelos seus pais. O importante e a chave de tudo, é o equilíbrio na educação da autoestima. “A autoestima é confundida com o narcisismo. O que é preciso cultivar é a autoestima, que se consegue com carinho, apoio, atenção e limites” – Eddie Brummelman. Narciso acabou por morrer afogado, tenhamos cuidados para não nos afogarmos também. Bibliografia: - Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914) Sigmund Freud - Mirror Stage (1936 – 1950) Jacques Lacan - Origins of narcissism in children (2015) Eddie Brummelman - Narcissism in the Modern World (2014) Pat MacDonald - Texto de Silve Le Poulichet sobre o narcisismo que veio a integrar as “Lições sobre os 7 Conceitos Cruciais da Psicanálise”, de Nasio (1989) - The Culture of Narcissism (1979) Christopher Lasch - Narciso (1597 - 1599) Caravaggio

Retrospectivas e Reflexões de alguém que se vai embora

 Como é que, ao afundar uma esponja num vasto oceano, se pode sequer esperar que ela não absorva água? É inevitável. Eu sou uma esponja.

No mês de Agosto deste ano algo vai mudar na minha vida. Tudo. Vou embarcar numa viagem de, à partida, quatro anos para a terra do capital, das segundas intenções, “o melhor país do Mundo”, os EUA. Estou plenamente ciente do choque cultural pelo qual vou passar quando lá chegar, mas também não tenho dúvidas que a adaptação vá muito mais longe do que isso. Não se trata de umas férias, vou viver e respirar aquela cultura na primeira pessoa durante anos. Por muito que diga e prometa aos meus amigos que não vou mudar e que quando voltar vão ter o mesmo amigo à sua espera, eu de nada disto sei. Aliás, eu de tudo isto duvido. A verdade é que não sei ao certo quando e se sequer vou voltar. Vou visitar, mas não vou viver nem respirar esta cultura. Tratar-se-ão apenas de umas férias.  

Há umas semanas, em conversa com um amigo meu que por acaso nasceu nos Estados Unidos, levantou-se o tema das relações e interações interpessoais e como diferentes culturas se refletem de forma diferente nessas mesmas relações e interações. Ele dizia-me que, nos Estados Unidos, as conversas que tinha em grupo eram muitas delas superficiais ou manipuladas por interesses terceiros, algo que, cá em Portugal, não acontece com tanta frequência. Isto deixou-me a pensar.
O povo Americano tem um hábito de manter-se ocupado. Isto foi me deixado bastante claro quando, ao comparar o meu atual horário numa faculdade Portuguesa àquele que será o meu horário no próximo ano letivo nos EUA, reparo que, enquanto que cá em Portugal chegava a ter semanalmente dias sem aulas ou com apenas uma aula, nos Estados Unidos todos os meus dias de trabalho serão preenchidos com aulas das nove da manhã às cinco da tarde. Será que a própria ética de trabalho associada a uma certa cultura pode afetar a forma como as pessoas se apresentam perante outras? De facto, faz sentido que assim seja. Já estabelecemos previamente que o povo Americano dá mais importância aos seus horários de trabalho que o povo Português. É natural que, alguém que passe mais tempo envolvido naquilo que é a sua vida profissional ou académica, irá valorizar essa vertente da sua vida, à partida, mais que alguém que dedica mais tempo a outras coisas para além do trabalho, quaisquer que essas sejam. Uma vida social que acaba por viver à volta da esfera de trabalho parece-me inevitável que seja secundarizada, vivida com a intenção de melhorar aquela que é a mais presente parte na vida, neste caso, dos Americanos. Cá em Portugal, muitas vezes, em situações sociais, o trabalho fica esquecido, como se deixasse de existir. Hábitos diferentes, prioridades diferentes. Isto é algo que me desconcerta um pouco, no entanto.


Há certas coisas com as quais cresci e que de certa forma tenho vindo a banalizar. Esta é uma delas. No entanto, agora que vou me vou mudar para o outro lado do Atlântico, são essas mesmas coisas que não quero deixar. São certas coisas que já fazem parte de mim. No entanto, estou ciente que ainda vou a tempo de perdê-las. A única coisa que tenho a fazer a este ponto é manter-me verdadeiro às minhas origens e aos meus valores. Se os perder não sei se os vou conseguir de volta.

Como é que, ao afundar uma pessoa num vasto oceano, se pode sequer esperar que ela saia viva? Graças a deus que sou uma esponja. Vivo hei de sair.

O Valor da Imagem

O surgimento dos novos media vieram revolucionar a arte, seja no pensamento, na criação de novos movimentos artísticos e práticas. 

Uma das práticas que veio com esse surgimento é a reprodução em massa de obras originais - prints, postcards e reproduções fotográficas. 

Será a produção em massa de uma obra original, a contribuição para a desvalorização da essência e do impacto da imagem dessa obra? 

O que acontece é que quando se faz essas reproduções, a imagem da obra original ganha uma nova forma, além do motivo inicial - como objeto decorativo, imagem gráfica de uma empresa, entre outros.

No entanto será essa produção em massa a contribuição para o reconhecimento do artista, contribuindo para o seu espólio artístico?

A internet permitiu ao artista poder expor a sua obra, sem necessitar de ser legitimado por entidades e aristocráticos da arte.

No entanto terá essa abertura saturado o mercado artístico, fazendo com que reproduções mais baratas sejam a solução para muitos artistas?

“[…] a arte perde o monopólio de imagem e de poder da imagem, graças à geração de imagens por computador.” (Peter Weibel, The Postmedia Condition).


Aos olhos de Lúcifer

O nome Lúcifer sempre possuiu uma má reputação no que toca à associação bíblica que recebeu ao longo dos nossos tempos. Mas partindo da sua origem, fora de junções erradas que constantemente são criadas em torno deste nome e da divindade que o representa, Lúcifer, que vem do latim "Lux-fero" e significa “o portador da luz” é, ao contrário do que muitos podem pensar, um símbolo de verdade, equilíbrio e conhecimento. Lúcifer não representa o mal, mas sim o equilíbrio total entre ambas a luz e a escuridão. Ao longo da vida, deparamo-nos com inúmeras situações difíceis e variados obstáculos, mas as nossas ações terão sempre consequências, boas ou más, independentemente do que façamos. É importante que vejamos que em cada ação que tomamos, o responsável por essas mesmas consequências somos nós e ninguém mais.

Somos seres inconstantes, mutáveis. 

Em nós existe tanto luz e escuridão. É necessário aceitar ambos os lados de modo a conhecermos o nosso verdadeiro eu. É necessário aceitar que por vezes não agimos como tanto esperávamos ou planeávamos com tanto rigor, que é parte da vida a ocorrência de dias bons e maus.

A vida continua, num equilíbrio constante.

Um mundo de distrações


    É cada vez mais difícil realizar uma tarefa sem estar constantemente a verificar o telemóvel ou a olhar para a TV, ou a observar os gatos ou até mesmo as moscas 

    Não sei se o facto de estarmos a passar por um ano tão atípico não tenha piorado a situação... Ou melhor, tenho a certeza que o fez. Estava bem consciente que a carga de trabalhos da faculdade não teria nada a ver com o que tínhamos experienciado até agora no básico e no secundário, mas o facto de estar confinada em casa tornou tudo dez vezes pior. Senti que nestes últimos meses tudo o que fiz foi trabalhar sem ter qualquer tipo de recompensa. Ao menos se as aulas fossem presenciais ainda iríamos ter a oportunidade de conviver, sair, divertirmo-nos e viver o tão antecipado "ano de caloiro" mas em estado pandemia... Nada disso se tornou possível. Ao invés disso tivemos, ou melhor, tive uma experiência quase degradante em que tudo o que fazia era sentar-me no computador e ficar horas e horas a fazer projetos. 

    Como consequência, e especialmente neste segundo semestre, vi-me constantemente à procura de uma forma de me distrair de tudo o que era faculdade, uma forma de me dar algum descanso, e de compensar pelas noites mal dormidas do semestre passado. Mas sinto que fui do oito ao oitenta. 

Sempre tive alguns problemas com trabalhos teóricos, admito, mas nesta última hora fiz de tudo para me abstrair daqueles 2000 caracteres que ainda tinha por escrever. Até mesmo este texto é uma mera desculpa para fugir a tudo o que tenho por fazer. E ainda assim, com todas as distrações que me são proporcionadas nada irá eliminar o facto de que o texto estará pronto dentro do limite de tempo, porque a minha consciência não me permitiria o contrário. 

    E é com este pequeno desabafo que volto para a frente do computador a fim de acabar finalmente o trabalho que me tem vindo a assombrar nestas últimas semanas.


Procrastinação

 Quem vir o título vai chegar à conclusão de que eu sou alguém que procrastina, o que não é completamente mentira...

 De facto, todos nós, em algum ponto da nossa vida procrastinámos, ou porque havia algo mais interessante que não conseguimos evitar de dar a nossa atenção, ou porque o nosso estado mental não estava com vontade de se focar num trabalho. A verdade é que quando procrastinamos existe algo no nosso cérebro que pega o leme e atira o pensamento lógico pela janela. Mesmo quando, por vezes, pensamos "Ok, agora tenho de fazer este trabalho e depois posso descansar", uma voz na nossa cabeça diz "Mas ainda temos tempo" e acabamos por nos distrair do trabalho que temos em mãos.

 Claro que se fosse apenas esta vozinha que tivéssemos na nossa cabeça, como é que um procrastinador faria o que quer que fosse de produtivo? Bem, dentro da cabeça de qualquer procrastinador, quando se aproxima a data do dito trabalho, uma nova voz aparece na nossa cabeça; desta vez, ela não contradiz o nosso pensamento lógico, mas faz com que entremos em pânico. Gosto de lhe chamar "A voz de realização" porque é quando nos bate de repente " Ah, tenho de entregar isto daqui a pouco tempo". E porque é que esta voz não é afetada pela vozinha que só se quer divertir 24 horas, 7 dias por semana? É simples, porque o nosso mecanismo de sobrevivência faz parte dessa voz.

 Quando se aproxima a data de entrega e não temos nada feito, "A voz de realização" abre as válvulas de adrenalina capazes de nos fazer correr uma maratona porque, mesmo quando evoluímos, o sentimento de lutar ou fugir ainda está presente, claro que em vez de ser associado a um predador ou situação perigosa é associado a estas pequenas coisas, trabalhos no fim de prazo, aquela mensagem que enviamos para a pessoa errada, ou quando saímos à rua e tememos que todos à nossa volta nos julguem porque não conseguimos ajeitar o cabelo naquela manhã. "A voz de realização" não é responsável por estes últimos é claro, é apenas responsável por tirar a cabeça do procrastinador das nuvens para que este não sofra com não entregar o trabalho a horas.

Mas e quando o trabalho não tem prazo de entrega? Bem, aí temos de aprender a colocar nós mesmos os prazos de entrega, se não teremos de arcar com as consequências.

A performance nas décadas de 1960 e 1970 e a partir da década de 1990

 Apesar da performance só ter sido aceite como expressão artística na década de 70, começou a ganhar forma nos primórdios dos anos 60. A mesma vem corromper toda a história da arte que se antecede, principalmente pelo contexto histórico, político e social onde se insere. A invenção da máquina fotográfica vem dar autonomia ao artista para experimentar e expor os seus ideais artísticos numa plataforma videográfica onde os limites não existem. Ao contrário da plataforma clássica, os museus, onde eram apenas aceitos certos tipos de projectos artísticos, os mais conceituados pela sociedade.

Nas décadas de 60 e 70, vários homens decidiram seguir o caminho mais experimental, que a câmera disponha. No entanto, este veio ser como uma “catapulta” para as mulheres no meio artístico, sendo que este universo centrado apenas nas capacidades dos homens, desvaloriza as mulheres, especialmente no âmbito do trabalho.

Com isto, as performances destas décadas contêm um carácter de maior libertação, expulsam todas as tradições que se empregavam no Status quo, são serenamente frustrantes. Na performance Cut Piece, 1965 de Yoko Ono, a artista entrega o seu corpo ao público, deixando-os cortarem-lhe a roupa, quebrando, assim, com o conceito de corpo reservado e intocável da mulher. Com isto, em Semiotics of the Kitchen, 1975, Martha Rosler assume o papel de dona de casa vestida de avental e ironiza as demonstrações de culinária na televisão popularizadas por Julia Child na década de 1960. Move-se pelo alfabeto de A a Z, atribuindo uma letra às várias ferramentas encontradas neste espaço doméstico. Empunhando facas, quebra-nozes e um rolo, demonstra a raiva e frustração da mulher. Esta arte, nos seus primórdios, abraça o pouco rigor videográfico, centrando-se mais no campo experimental. No entanto, é movida essencialmente pela crítica e pelos sentimentos de prisão vividos por mulheres, nas décadas de 60 e 70.

Este movimento é marcado pelo clima provocativo. A arte liberta a mulher, dando-lhe espaço para exprimir certas injustiças sociais entre o sexo feminino e masculino. Por fim, na década de 90, vive-se um clima de prosperidade sem conflito, devido ao fim da guerra fria e à popularização do computador pessoal e consequentemente da internet.

Muitos artistas saíram da solidão para equipas videográficas como é notório na expressão de Zhang Huan “... Afterward, I signed contracts with photographers and videographers for every performance piece...”. Com isto, foi possível a conceder melhor qualidade de vídeo aos artistas, de modo a que os espectadores das suas vídeo performances tivessem uma percepção semelhante à de quem assistia ao vivo.

Consequentemente, a popularização da internet e computador pessoal, foram claramente as principais fontes da globalização, sendo capazes de chamar inúmeros artistas performers à fama, tal como uma melhor aceitação do estilo artístico da performance.