Cada vez mais na minha vida me questiono sobre o que efetivamente se pode considerar arte e se, o que eu faço pode ser designado de arte.
Vivo num tempo em que na escola se fala tanto sobre as grandes obras clássicas greco-romanas, renascentistas e barrocas, eram grandes os exemplos de pinturas e esculturas que nos acompanham até aos dias de hoje, eram grandes imagens que nos davam a ver e a admirar, a realidade tal com ela é. Nessas alturas, o meu eu criança interrogava-se sobre o meu talento e ambição pelo desenho, e se alguma vez se poderiam comparar com esses, grandes, de novo, exemplos da antiguidade.
“Como se poderá avaliar o grau de fidelidade que uma obra representa a realidade, se não a podemos aceder?”
E com todas estas questões, ia-me esquecendo que o mundo já nem era assim. A obra de arte já não era como era e eu ainda não entendia como o era. Agora que a entendo um pouco melhor, continuo sem saber o que é arte, o que é suficiente para que uma peça seja considerada arte nos dias de hoje. Continuo sem saber se, o que eu faço pode ser considerado arte ou se é simplesmente um gosto, um passatempo.
Não costumo pensar num porquês de fazer um desenho, um projeto, ou outro trabalho. Também não costumo exprimir sentimentos porque quase não sinto nada, ou então só me sinto bem, porque o meu bem é o normal. Nem penso expressar problemas sociais, nem políticos, nem ambientais, penso muito neles, mas não os demonstro no que eu faço. Desenho porque quero, porque gosto, porque me apetece, e se por acaso desenhei alguma coisa relacionado com tudo aquilo, foi apenas por mero acaso.
“Nem toda a arte se caracteriza por exprimir sentimentos e por comunicá-los de forma evidente como a arquitetura.”
Ainda bem. Só penso no ‘porquê’ nestes projetos de faculdade, porque sou forçada a pensar em algo, porque não tenho tempo de ir lá para fora e ser surpreendentemente inspirada por algo que me suscite imediatamente para um projeto que possa vir a realizar. Então, se desenhar sem nenhuma razão não é arte, esta forma será? Uma forma em que fui impingida a arranjar uma razão para o que iria fazer? Ou não é preciso razão nenhuma?
“A combinação das qualidades formais da obra de arte pode provocar diferentes emoções estéticas e ganhar significados diferentes em públicos distintos”
Então, se uma obra de arte é só isso, só se torna isso, quando desenvolve uma relação com o público. Quando sendo significante, atinge um significado por parte deles e, de acordo com esse significado se pode definir se é ou não é arte, se só eles a podem classificar, então o meu trabalho não o é. Não é porque eles ainda não o viram.
Se o meu trabalho ainda não foi partilhado com o mundo, nem com centenas de pessoas, nem com dezenas, só em casa, como é que posso assegurar a publicação de um trabalho como obra de arte se ele, sendo que ainda não foi visto, não é obra de arte por ainda não ter sido visto?
Se quero que seja visto, teria de optar pelo caminho das redes sociais. Mas assim teria de me render ao consumismo de imagens, onde todos têm o mesmo patamar, incluindo eu, e numa fração de segundos veem o teu trabalho com uma experiência sensorial e cognitiva nada semelhante a algo que é apresentado fora dos ecrãs minúsculos do telemóvel ou computador.
Não sei ser contemporânea. Sei que o meu desenho abrange diversos estilos, mas não sei se é bom porque experimento muitos deles, ou se é mau porque ainda não tenho o meu estilo. Se já o tenho, então ainda não sei qual é. Só sei o que gosto de fazer e que vou continuar a fazê-lo e se é arte ou não, não sei. Porque percebi que arte é tudo e nada daquilo que eu referi. É imitação, é expressão, é estética, é provocação, é reflexão, mas não é, não, se eles não existirem.