Hoje levantei-me às 9:37. Sonhei com prazos de entrega e automações. Não dormia há 43 horas.
Os dias passam
depressa e tão devagar ao mesmo tempo que me ausento da minha própria noção de
tempo. Enquanto tento processar tudo o que está a acontecer dou voltas à mesa
da cozinha até alguma espécie de inspiração ou intenção me assoberbar e ligar
de novo o modo automático. A expressão “ter os pés assentes na terra” nunca fez
menos sentido. Parece que quanto mais me distancio das coisas efervescentes do
mundo contemporâneo, mais vou ao encontro da minha sobriedade.
Sinto-me ausente.
Não sei onde fui nos últimos tempos mas espero que esse lugar onde me encontro
seja melhor do que aquele que o meu corpo pisa todos os dias. Corpo esse tão
vazio, tão físico, dono das ações e do mérito por elas. Que fala, que escreve,
que se vê no espelho, dissociado de si. “Quem és tu”
Existe um turbilhão
de pensamentos que me envolvem, um universo de inovações e revoluções a
acontecer lá fora, mas do outro lado da minha janela só vejo a vizinha a
passear o cão de vez em quando. Deste lado, faço mil e uma coisas ao mesmo
tempo, mas é como se não estivesse a fazer nada. O propósito existe mas não tem
propósito nenhum. Às vezes dou por mim a pensar qual é o objetivo de tudo isto,
da minha existência ou o que quer que isso seja. Não sei. Mas gosto de
acreditar que é sentir. Sentir o sol na pele quando nasce na madrugada, sentir
o cheiro nostálgico do início de verão, sentir a brisa fresca e a adrenalina do
movimento. Olhar. A forma como a luz molda cada objeto, cada paisagem, cada
ser. A forma como pinta com todas as cores do arco-íris. A forma como estas nos
provocam sensações, despertam emoções, criam cenários, trazem lembranças. E nos
deixam sonhar.
Ouvir. O som das
ondas do mar ou jazz ao fim da tarde.
Deixar-me levar
pela natureza das coisas. Permitir que me toque e me inspire e me deixe levar o
meu tempo. Tentar sentir as minhas vibrações e as dos outros e do que está à
nossa volta.
Hoje o mundo exige
demasiado de mim, arranca-me da minha forma, faz-me tantas perguntas às quais
não tenho resposta. A claustrofobia de ter de estar a par de tudo, de fazer em
função de, de criar por imperativo de outrem, é só um impedimento à minha
expansão.
De que me serve
exceder os meus próprios limites, gastar a minha energia em algo que não cativa
a minha presença.
Quero experienciar
a Terra.
Afinal, estou só de passagem.