Não é segredo nenhum que religião é uma das coisas que mais influencia a humanidade num todo, nos molda, no idealiza, nos constrói para algo. Se olharmos cinco mil anos atrás, toda a história da humanidade sempre foi marcada e influenciada pela religião. Mas eu não venho aqui falar acerca da religião num todo. Não. Eu venho falar acerca do meu caso específico, do que é viver e crescer dentro dum lar que é absolutamente controlado pelos ideais duma ceita, ou para ser mais exato, o pesadelo que foi sair da mesma. Não vou especificar qual a ideologia por detrás da ceita donde cresci, pois não quero ferir a suscetibilidade de cada um, por isso tanto podiam ser católicos como evangélicos ou testemunhas de jeová, a realidade é que, não importa a ideologia de cada grupo, porque, enquanto nós como humanidade, deixarmos que os nossos ideais e éticas sejam moldadas pelo grupo de massa que seguem cegamente uma ideologia sem qualquer fundamento para além de fé, então nunca nos iremos libertar destas correntes que nos prendem a mente.
Desde muito
pequeno eu sempre pertenci a essa ceita, não é que também tivesse muita escolha,
os meus pais eram, os meus irmãos eram, os meus avôs eram, toda a gente que
sempre conheci, amigos e entrequeridos, todo o meu mundo sempre foi essa ceita.
Nunca tive oportunidade de parar um pouco e pensar se, era realmente aquilo que
acreditava, se era o que realmente queria fazer e seguir. Continuei a crescer
lá dentro, a aprender os costumes e as leis e as ideias, ideias que me eram
despejadas como um programa ou, um vírus, que é descarregado para dentro do
nosso ser, que nos molda, que nos hipnotiza nos cega nos bloqueia, e, quando
damos por nós, nós já repetimos tudo como um gravador estragado que não sai do
mesmo take, lemos palavras que não foram escritas por nós e enaltecemos a nossa
voz com frases que nos foram lá colocadas. Entramos num estado… dormente… quase
que… morto… O que é a existência se… um simples culminar de ideias e crenças
pessoais que nos moldam como pessoa? O que sou eu mesmo, como espetro neste universo
se, não um simples conjunto de ideias e gostos e filosofias pessoais que moldam
a minha existência? Então se… eu não tenho livre-arbítrio para tomar as minhas
escolhas, nem mente critica para formular as minhas ideologias, será que eu
sequer existo…? Ou torno-me apenas parte dum sistema manipulado e construído para
tomar conta de nós, nos prender, formatar, agarrar e violar a nossa própria existência,
sermos nada mais do que simples pedaços de carne que deambulam por esta terra a
pregar palavras que não são minhas? E eu continuei, até aos meus dezassete
anos, dezassete anos nesta ceita, neste grupo, nesta tão aclamada família e não
me entendam errado, pessoas incríveis, simpáticas e que me amavam muito, mas que
eram vítimas deste controlo mental, pessoas que nunca iriam sair da caixa que
os prendia, nunca iriam tomar o passo de saírem da caverna de Platão, de
enfrentarem o medo e perceberem que não se passava duma farsa, duma mentira
feita pelas pessoas no poder, para nos manter controlados, eu não iria fazer
parte deste meio, recusei-me, consegui quebrar as correntes que me prendiam,
consegui estabelecer mente e forma de pensar própria depois de tantos anos
preso a um meio que se dizia tão aberto e livre, tão enaltecido e de olhos abertos
porque, “víamos a verdade com os nossos olhos”, mas não tínhamos consciência critica,
éramos bloqueados e vendados e regidos por leis e normas que ninguém parava
sequer para pensar no porquê delas existirem. E eu saí. Parti a parede. Abri os
olhos. E o meu mundo caiu sobre mim. O pior problema das ceitas nem é lidar com
as leis que te impõem durante toda a tua vida, não, é entenderes que a tua vida
inteira, todo o teu mundo, as pessoas que mais amas, todas vivem neste meio, e
a dor, o peso, o fardo que é saberes que, ao quebrares as correntes, ao, te
libertares deste mundo que te impede de seres um individuo consciente, estás a
mandar tudo o que amas, tudo o que te rodeia, embora. E tudo o que sempre amaste
te manda embora, te expulsa, te corta da vida deles como um tumor que se
alastra dentro do corpo, e eu torno-me esse tumor por simplesmente querer o que
é certo para mim, por simplesmente tomar a decisão de ser eu a escolher o que
quero para o meu futuro, em que desejo acreditar. Tudo o que sempre quis foi um
“claro, nós entendemos, fico feliz que tenhas tido a força mental para pensares
fora da caixa e tomares o teu próprio caminho”. Não haveriam eles de ficar
contentes…? Porquê? O que estamos dispostos a sacrificar pela liberdade? Até que
ponto é que a liberdade é melhor? e agora sou livre, sim livre, mas para fazer
o quê? Não me entendam errado, prefiro andar sozinho no caminho certo, do que
acompanhado no caminho errado, não que haja certo ou errado, mas é o caminho
errado para mim, não importa quantos amigos tenhamos, família, pessoas que nos
são queridas, até mesmo relações amorosas, a única certeza que temos na nossa
vida, somos nós mesmos e às vezes, escolhermos o caminho certo para nós, mesmo
que seja sozinho, não significa que é errado. É preciso alguém com muita força
emocional para ser capaz de abdicar de tudo o que ama pelo bem daquilo que
defende e acredita. Porque o que não nos mata, só nos deixa mais fortes.
… Certo?
Ou …
O que não
nos mata, só nos deixa mais quebrados …?
Queria só
terminar com esta ideia, não deixem de ser vocês mesmos, não importa o preço
que estejam dispostos a pagar, não sacrifiquem o vosso ser pelo bem de outros,
pela companhia de outros, se tiverem de cortar cada única pessoa da vossa vida
pelo bem daquilo que acreditam, façam-no, porque se essas pessoas merecessem
estar na vossa vida, então elas nunca teriam de ir contra aquilo que vocês
acreditam. Nunca se esqueçam, “eu preferia estar morto, do que estar em algum sítio
da qual não pertenço, porque morte é melhor do que escravatura.”