domingo, 6 de junho de 2021

 

“A política não é o reino da moral, do dever, do amor(...) É o reino das relações de força e da opinião, dos interesses e dos conflitos de interesse. A política ocupa-se do que há de mais complexo e precioso: a vida, o destino, a liberdade dos indivíduos, das coletividades e, doravante da humanidade.”

                                                                                                                          A. Comte-Sponville

É possível diferenciar os conceitos pertencentes à ética e os que pertencem à política. Retirando da frase de A. Comte-Sponville é viável estabelecer a diferenciação. “A política não é o reino da moral, do dever, do amor (...)a vida, o destino, a liberdade dos indivíduos, das coletividades e, doravante da humanidade.” Enquanto a conceção política é: “É o reino das relações de força e da opinião, dos interesses e dos conflitos de interesse.”

A palavra “política”, deriva de pólis que na Grécia Antiga era a cidade-estado, uma cidade com organização e virada para a gestão da vida política. A política questiona-se: “Como viver num espaço público? “Como conciliar a liberdade individual com a dos outros?”; “Como conciliar os interesses individuais dos coletivos?”. Podemos, assim, afirmar que a política é a gestão da República, isto é, a gestão da rés-pública, coisa pública. A política desempenha um papel fundamental na sociedade, uma vez que é necessário organizar a vivência social, harmonizar os interesses e gerir os conflitos de modo a alcançar um bem comum.

                Os políticos encontram-se no parlamento, constantemente a discutir ideias para que haja um desenvolvimento social e económico, de um país. Uma sociedade anarquista seria uma sociedade sem rumo nem ordem, pois todos teriam o livre-arbítrio de decidir o que fazer, assim destabilizando terceiros. Deste modo, a política é um “estabilizador” de ideias e comportamentos, onde a opinião deverá ser dada – “É o reino das relações de força e da opinião, dos interesses e dos conflitos de interesse.”

A política é uma organização de poder com vista à manutenção do equilíbrio social, é a “arrumação” da casa exterior do Homem. Por outro lado, a ética é o alicerce para que uma sociedade justa. A ética poderá também ser a definida por “arrumação” da casa interior do Homem. Estes dois conceitos têm de estabelecer uma relação, de forma a criar um conjunto organizado politicamente e eticamente. Como podemos ler no pequeno excerto, acima mencionado, a política ocupa-se da ética, visto que – “A política ocupa-se do que há de mais complexo e precioso: a vida, o destino, a liberdade dos indivíduos, das coletividades e, doravante da humanidade.”

 

“Para nós, o objeto primário da justiça é a estrutura básica da sociedade, ou, mais exatamente, a forma pela qual as instituições sociais mais importantes distribuem os direitos e os deveres fundamentais e determinam a divisão dos benefícios da cooperação da sociedade(...) Na posição original, os princípios da justiça são escolhidos a coberto de um véu de ignorância.”

J. Rawles

                A “posição original” e o “véu da ignorância” fazem parte de uma situação fictícia/imaginária. Nesta situação, na “posição original”, encontra-se um indivíduo e os restantes, são cidadãos livres, iguais e racionais. Estes indivíduos estão cobertos pelo “véu da ignorância”, ou seja, têm total desconhecimento da sua “lotaria socioeconómica e natural.” Este “véu da ignorância”, permite eliminar o autofavorecimento e garantir imparcialidade da escolha dos princípios da justiça.

                Na teoria de Rawles, existem 3 princípios. O primeiro é o da liberdade compatível e igual para todos, isto é, garantir as liberdades básicas tais como, a liberdade de expressão na religião, política e direito à propriedade. O segundo é o da igualdade ou oportunidade justa, para todos. O terceiro e último é o princípio da diferença, este admite desigualdades socioeconómicas e, através do respeito à diferença, pretende corrigir as assimetrias sociais, dando assim espaço para todos.

                Robert Nozick irá criticar um dos princípios de justiça de Rawles – a diferença. Irá referir que o princípio é uma “conceção padronizada da justiça”. Imaginemos uma sociedade em que os bens e riquezas são igualmente distribuídos por todos – seria uma situação instável, fazendo com que o Estado tivesse de interferir contínua e sistematicamente pela cobrança de impostos. Para Nozick este ideal é eticamente errado, respeitar a liberdade do outro é também respeitar o direito à mesma.

                Rawles, caracteriza-se por um ser pensador que favorece a equidade e também por um liberal com tendências igualitaristas. Devido à equidade que empregaria, Rawles tentaria balançar uma sociedade desigual com direitos iguais.