Inúmeras vezes, ao longo da minha
vida, já me senti afastada do que realmente importa. Acho que todo mundo já se
sentiu assim. É um sentimento estranho onde parece que os dias passam, as vezes
até rápidos demais, enquanto assisto do banco do passageiro. Nas discussões
sobre alienação, me assustei com o quanto algumas coisas das quais falamos se
tornavam presentes na minha vida. Reparei nas distrações em que me envolvia,
sempre à procura de me manter ocupada, com coisas que já estão “pré-escolhidas”
para mim. Me distraio com o consumo, e
muitas vezes, senão sempre, o mesmo que multidões consomem. Reparei que quando
vou fazer algo de produtivo seja um trabalho da faculdade, lavar a louça,
arrumar a casa, não o faço sem assistir um episodio de uma serie, um vídeo no
youtube ou qualquer outro tipo de coisa que divida minha atenção. Um escape
talvez?
Chegamos a discutir em aula, o
sucesso dos filmes de heróis, os filmes surreais que mostram galáxias distantes
em 3D e de como na época dos filmes de western que contam as histórias dos
cowboys dos EUA fizeram sucesso em países que nem partilhavam da mesma cultura.
Pergunto se também não seria alguma forma de escape da vida real, da mesma
forma que tento me distrair diariamente com coisas fora da minha realidade, com
séries sobre uma vida que não é minha e vídeos sobre objetos que não possuo, e
que de alguma forma me tentam dizer que é algo que preciso ter ou alcançar. Então
alienação me pareceu encaixar perfeitamente, digo, faz sentido, não faz? A vida
que vivo é realmente minha, é realmente a minha essência e minha vitalidade, ou
apena um reflexo do que eu consumo diariamente e na verdade, bem distante
daquilo que verdadeiramente sou.
Quando eu era mais nova, lembro
muito bem de como me sentia depois de assistir um filme no cinema, bem, de como
o personagem principal se sentia e não eu. Me relacionava muito com aquela
realidade alternativa e me identificava com história, por mais que fosse um
filme de agente secretos e eu tivesse 13 anos de idade. Meus pais sempre
acharam graça, coisa que na época eu nem reparava que fazia, de quando eu
chegava em casa depois de assistir um filme sobre luta nos cinemas e queria me
tornar lutadora, ou quando era um filme de romance e eu queria escrever um
poema, ou aquela vez em que um filme de super-heróis passou na televisão e eu
pulei do sofá achando que iria voar. E se de lá para cá isso não mudou muita
coisa? Por mais que não seja mais criança e não invente extremas fantasias na
minha cabeça e já não tente desvendar um caso não existente após assistir um
filme investigativo, o que eu consumo ainda me influência constantemente e
fortemente, mas ao mesmo tempo com tal sutileza de maneira que me faça afastar
cada vez mais de mim mesma sem que eu perceba.