domingo, 13 de junho de 2021

A não tão minha realidade

 

Inúmeras vezes, ao longo da minha vida, já me senti afastada do que realmente importa. Acho que todo mundo já se sentiu assim. É um sentimento estranho onde parece que os dias passam, as vezes até rápidos demais, enquanto assisto do banco do passageiro. Nas discussões sobre alienação, me assustei com o quanto algumas coisas das quais falamos se tornavam presentes na minha vida. Reparei nas distrações em que me envolvia, sempre à procura de me manter ocupada, com coisas que já estão “pré-escolhidas” para mim. Me distraio com o consumo,  e muitas vezes, senão sempre, o mesmo que multidões consomem. Reparei que quando vou fazer algo de produtivo seja um trabalho da faculdade, lavar a louça, arrumar a casa, não o faço sem assistir um episodio de uma serie, um vídeo no youtube ou qualquer outro tipo de coisa que divida minha atenção. Um escape talvez?

Chegamos a discutir em aula, o sucesso dos filmes de heróis, os filmes surreais que mostram galáxias distantes em 3D e de como na época dos filmes de western que contam as histórias dos cowboys dos EUA fizeram sucesso em países que nem partilhavam da mesma cultura. Pergunto se também não seria alguma forma de escape da vida real, da mesma forma que tento me distrair diariamente com coisas fora da minha realidade, com séries sobre uma vida que não é minha e vídeos sobre objetos que não possuo, e que de alguma forma me tentam dizer que é algo que preciso ter ou alcançar. Então alienação me pareceu encaixar perfeitamente, digo, faz sentido, não faz? A vida que vivo é realmente minha, é realmente a minha essência e minha vitalidade, ou apena um reflexo do que eu consumo diariamente e na verdade, bem distante daquilo que verdadeiramente sou.

Quando eu era mais nova, lembro muito bem de como me sentia depois de assistir um filme no cinema, bem, de como o personagem principal se sentia e não eu. Me relacionava muito com aquela realidade alternativa e me identificava com história, por mais que fosse um filme de agente secretos e eu tivesse 13 anos de idade. Meus pais sempre acharam graça, coisa que na época eu nem reparava que fazia, de quando eu chegava em casa depois de assistir um filme sobre luta nos cinemas e queria me tornar lutadora, ou quando era um filme de romance e eu queria escrever um poema, ou aquela vez em que um filme de super-heróis passou na televisão e eu pulei do sofá achando que iria voar. E se de lá para cá isso não mudou muita coisa? Por mais que não seja mais criança e não invente extremas fantasias na minha cabeça e já não tente desvendar um caso não existente após assistir um filme investigativo, o que eu consumo ainda me influência constantemente e fortemente, mas ao mesmo tempo com tal sutileza de maneira que me faça afastar cada vez mais de mim mesma sem que eu perceba.